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"Pereçam miseravelmente aqueles que pensam que estes homens fizeram ou sofreram algo vergonhoso." (Filipe II da Macedônia sobre o Batalhão Sagrado de Tebas, o Exército de Amantes)

21 dezembro 2019

Androfilia Zodiacal: Capricórnio

Homossexualidade, Astrologia, Zodíaco, Mitologia, Capricórnio
Capricórnio no Espelho de Urânia, gravura de Sidney Hall (1825)

Chegou a hora do post especial sobre a androfilia do signo de Capricórnio, o décimo dos signos do Zodíaco (as datas de início e fim de cada signo são as do período 2019-2020, pois as datas podem variar levemente a cada ano). Um alerta: aqui não tratarei dos aspectos astrológicos dos signos (no máximo bem superficialmente); quem quiser saber como cada signo é no amor, no sexo, no beijo, etc, o que não faltam são milhares e milhares de sites (literalmente) sobre o assunto. Então eu só faria chover no molhado (além de que eu não sou astrólogo).

Capricórnio
(21/12 a 21/01)

Capricórnio é uma das constelações do Zodíaco. Seu nome em latim, Capricornus (caprae cornus), significa "chifre de cabra" ou "tendo chifres como os de uma cabra", e é comumente representado na forma de uma cabra (ou bode, pra ser mais exato) do mar, uma criatura mítica que é metade cabra (ou bode), metade peixe.

Capricórnio é uma das 88 constelações modernas e também foi uma das 48 constelações listadas pelo astrônomo do século 2 Claudius Ptolomeu. Sob seus limites modernos, faz fronteira com Águia, Sagitário, Microscópio, Peixe Austral e Aquário. A constelação está localizada em uma área do céu chamada Mar ou Água, que consiste em muitas constelações relacionadas à água, como Aquário, Peixes e Erídano. É a menor constelação do Zodíaco.

História
A constelação foi atestada pela primeira vez em representações em um selo de cilindro do século 21 AEC, sendo explicitamente registrada nos catálogos de estrelas da Babilônia antes de 1000 AEC. No início da Idade do Bronze, o solstício de inverno (dezembro) ocorria nessa constelação, mas, devido à precessão dos equinócios, o solstício de dezembro agora ocorre na constelação de Sagitário. O Sol hoje em dia atravessa a constelação de Capricórnio (diferente do signo astrológico) do final de janeiro a meados de fevereiro.

Capricórnio, de Kagaya
Mitologia
Constelação de Capricórnio
Apesar de fraca (astronomicamente falando, quer dizer que não tem estrelas muito brilhantes, embora seja facilmente reconhecível por seu formato de asa-delta), a constelação de Capricórnio tem uma das mais antigas associações mitológicas, sendo consistentemente representada como um híbrido de cabra e peixe desde a Idade do Bronze, quando os babilônios usavam o MULSUḪUR.MAŠ ("peixe-cabra") como símbolo do seu deus Ea/Enki. Ea (para os acadianos) ou Enki (para os sumérios) é o deus criador da Mesopotâmia, e de seu sêmen divino foram formados os rios Tigre e Eufrates, os mais importantes da região, e também toda a vegetação do mundo.

Na mitologia grega, a constelação às vezes é identificada como Amalteia, a cabra que amamentou o bebê Zeus depois que sua mãe, Reia, o salvou de ser devorado por seu pai, Cronos. O chifre quebrado de Amalteia foi transformado na Cornucópia, o "chifre da abundância", e dado de presente à mãe de Zeus.

Zeus amamentado por Amalteia,
assistido por Reia e protegido pelos Curetes
Segundo alguns mitos gregos antigos, o mito começou com o bode-do-mar Prico (Pricus). Ele foi o pai da raça dos bodes marinhos (bodes na metade anterior e peixes na metade posterior), que eram criaturas inteligentes e honradas. Eles viviam no mar perto da costa, e podiam falar e pensar de acordo com a lenda grega, sendo favorecidos pelos deuses. Prico está ligado a Cronos, o deus do tempo nos mitos gregos (aqui é o titã Cronos [Κρονος], pai de Zeus, mas confundido com a divindade primordial do tempo, Chronos [Χρονος]). Cronos criou o imortal Prico, que compartilha a capacidade de seu pai de manipular o tempo. Ele teve muitos filhos que vivam perto da beira-mar, mas quando se viram na terra seca, transformaram-se em bodes normais, com isso perdendo sua capacidade especial de pensar e falar. Em um esforço para evitar isso, Prico volta no tempo, repetidas vezes; no entanto, ele finalmente se resigna à solidão e à angústia, permitindo que os pequenos bodes do mar o deixassem. Aprender que ele não pode controlar o destino dos filhos e não querer ser o único bode marinho o leva a pedir a Cronos que o deixe morrer. Por ser imortal, no entanto, ele deve passar a eternidade no céu como a constelação de Capricórnio.

Prico, o Capricórnio
Às vezes, Capricórnio também é identificado como (Pan), o deus com chifres e pernas de bode, que se salvou do monstro Tífon dando a si próprio um rabo de peixe e mergulhando no rio Nilo, no Egito.

Na religião e mitologia gregas antigas, Pã é o deus da natureza, dos pastores e rebanhos, das montanhas, da música pastoral e era companheiro das ninfas. Com sua terra natal na rústica Arcádia, ele também é reconhecido como o deus dos campos, bosques, vales arborizados e frequentemente associado ao sexo; por isso, Pã está ligado à fertilidade e à estação da primavera. Os gregos antigos também consideravam Pã o deus da crítica teatral. A palavra "pânico" em última análise deriva do nome do deus. Quando perturbado em seus cochilos à tarde, o grito de raiva de Pã inspira pânico (panikon deima) em lugares solitários. Após o ataque dos titãs ao Olimpo, Pã reivindicou o crédito pela vitória dos deuses porque havia assustado os atacantes. Na Batalha de Maratona (490 AEC), diz-se que Pã favoreceu os atenienses e inspirou o pânico no coração de seus inimigos, os persas.

Para os romanos Pã é o deus Fauno (Faunus).

Homossexualidade na Grécia Antiga - Pã excitado perseguindo um jovem pastor, século 5 AEC, Falo ereto
Pã excitado perseguindo um jovem pastor, século 5 AEC.
Atrás de Pã podemos ver uma herma, representação do pai dele, Hermes, com um imenso falo ereto.
Pã se tornou uma figura significativa no movimento romântico da Europa ocidental e também no movimento neopagão do século 20. Famoso por seus poderes sexuais, ele é frequentemente retratado com um falo (isto é, com o seu pênis ereto). O filósofo cínico Diógenes de Sinope, falando em tom de brincadeira, relatou um mito de Pã aprendendo a masturbação com seu pai, Hermes, que sentiu pena do filho ser constantemente rejeitado por ninfas e rapazes; Pã então ensinou o hábito aos pastores, que costumavam passar longos períodos de solidão, trazendo o dom divino da masturbação masculina entre os homens.

Homossexualidade na Grécia Antiga - Pã e Dáfnis
Pã ensina flauta a Dáfnis,
Pompéia (100 AEC)
A maior conquista de Pã foi a da deusa-lua Selene. Ele conseguiu isso enrolando-se em uma pele de carneiro para esconder sua forma peluda de bode preto, e a puxou do céu para a floresta onde a seduziu.

Homossexualidade na Grécia Antiga, Homossexualidade na Roma Antiga
Estudo de um fauno, de
Domenico Maria Canuti (séc. XVII)
Pã também amou o belo Dáfnis (não confundir com a ninfa Dafne), jovem pastor da Sicília que dizem ter sido inventor da poesia pastoral após aprender a tocar flauta com seu mestre e amante Pã. Também é dito que Dáfnis foi amado pelo deus Hermes, enquanto outra versão diz que Dáfnis era filho de Hermes, fazendo dele meio-irmão de Pã, mas deixarei para outro artigo uma explanação maior sobre o mito de Dáfnis.

Os filhos de Pã, igualmente metade homens e metade bodes, são coletivamente conhecidos como pãs, ou faunos entre os romanos, e são erroneamente confundidos com os sátiros, que são homens em quase toda a sua fisionomia, exceto pelas orelhas pontudas, um rabo de cavalo sobre as nádegas e um pênis desmesuradamente grande quase sempre duro e que fazem parte do cortejo de Dioniso (futuramente também desejo fazer um artigo somente sobre os sátiros e evidenciar melhor a diferença entre estes e os pãs/faunos).

Pã fazendo sexo com uma cabra, estátua da Villa dos Papiros, Herculano
Saturno, regente de Capricórnio
Saturno é o planeta regente de Capricórnio e de Aquário. Na mitologia romana Saturno é o deus das sementes e das colheitas (agricultura), líder dos titãs, pai e fundador das civilizações e da ordem social. Os romanos antigos adoravam Saturno como o deus mais alto e mais importante entre seu panteão de divindades, compartilhando o mesmo prestígio com Júpiter, seu filho e rei dos deuses. Seus pais são Caelus/Céu e Terra (Urano e Gaia). Saturno equivale ao deus grego Cronos, que, como já vimos, é pai de Prico, o primeiro bode do mar, além de ser pai de Zeus, que foi amamentado pela cabra Amalteia.

Cronos castrando seu pai Urano (séc. 18).
Baseado em Polidoro da Caravaggio
Sob o domínio de Cronos/Saturno, os homens desfrutavam da generosidade espontânea da terra sem necessidade de trabalho na "Era de Ouro" (ou "Idade de Ouro") descrita por Hesíodo e Ovídio, uma era de inocência primordial e harmonia com toda a natureza em que os homens viviam como deuses, enquanto a mulher ainda não havia sido inventada. Na versão de Hesíodo, a Era de Ouro terminou quando o titã Prometeu, sobrinho de Cronos e criador do Homem, conferiu à humanidade (até então uma sociedade exclusivamente masculina) o dom do fogo e de todas as artes. Por isso, Zeus puniu Prometeu acorrentando-o a uma rocha no Cáucaso, onde uma águia comia seu fígado todos os dias, regenerando-se à noite, pela eternidade. Os deuses enviaram a bela donzela Pandora, a primeira mulher a habitar entre os homens, ao irmão de Prometeu, Epimeteu. Os deuses confiaram a Pandora uma jarra que ela estava proibida de abrir; no entanto, sua curiosidade incontrolável a fez abrir a jarra, liberando assim todo tipo de mal no mundo. Isso marcou a derrota final dos titãs e o domínio dos deuses do Olimpo, iniciando a Era de Prata da humanidade, inferior à de Ouro.

Homossexualidade na Grécia Antiga - Cronos, Saturno
Saturno personifica o sábado (seu dia sagrado) em um mosaico da Villa Romana de Orbe-Boscéaz, Suíça.
Ele é servido por dois belos e musculosos rapazes alados, que o carregam sobre um banco.
O festival romano da Saturnália, realizado próximo ao solstício de dezembro em homenagem ao deus Saturno, marca a entrada do Sol em Capricórnio e está entre as origens pré-cristãs do Natal moderno.

Cabra marinha (desconheço o autor)

Então é isso, galera! Espero que tenham gostado da pesquisa. Qualquer dúvida, contribuição, etc., é só deixar um comentário aí embaixo.

Um grande abraço e até o signo de Aquário, o mais homoerótico dos mitos do Zodíaco!

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