Aviso aos nossos inimigos:

"Pereçam miseravelmente aqueles que pensam que estes homens fizeram ou sofreram algo vergonhoso." (Filipe II da Macedônia sobre o Batalhão Sagrado de Tebas, o Exército de Amantes)

05 agosto 2020

Batalhão Sagrado de Tebas – História Militar (Batalha de Lêuctra)

Batalhão Sagrado de Tebas – Batalha de Lêuctra
Batalha de Lêuctra, a Ascensão de Tebas, de Mikel Olazabal

 A recusa de Epaminondas em aceitar os termos da conferência de paz de 371 AEC excluiu Tebas do tratado de paz e deu a Esparta a desculpa de declarar guerra.

Pouco tempo depois, o exército do rei Cleombroto de Esparta recebeu ordens de invadir a Beócia. O exército de Cleombroto cruzou a fronteira fócio-beócia e chegou a Queroneia, depois parou, talvez esperando que os tebanos mudassem de ideia. Os tebanos, no entanto, estavam comprometidos em lutar. Cleombroto então moveu-se para o interior, seguindo a estrada leste em direção a Tebas, até chegar à vila beócia de Lêuctra (moderna Lefktra, Plataies), perto do extremo sudoeste da planície de Tebas. Lá eles foram recebidos pelo principal exército de Tebas. Os dois exércitos armaram seus acampamentos um em frente ao outro em dois cumes baixos, respectivamente. O campo de batalha entre eles tinha cerca de 900 m de largura.

Batalhão Sagrado de Tebas – Batalha de Lêuctra
Batalha de Lêuctra, O Ataque do Batalhão Sagrado,
de Johnny Shumate
O exército espartano contava com cerca de 10.000 hoplitas, 1.000 soldados de infantaria leve e 1.000 cavaleiros. No entanto, apenas cerca de 700 hoplitas do exército espartano eram compostos por esparciatas (cidadãos espartanos), o restante eram tropas recrutadas de estados submetidos a Esparta (os periecos) obrigados a lutar. Eles estavam dispostos tradicionalmente, no que os hoplitas eram organizados em falanges com cerca de oito a doze homens de profundidade. Cleombroto posicionou-se junto aos hoplitas espartanos (incluindo a guarda real de elite de 300 hippeis, coorte de infantaria [tropa a pé], apesar do nome implicar cavalaria) na ala direita, a posição tradicional de honra nos exércitos gregos. A única inovação tática de Cleombroto foi a colocação de sua cavalaria na frente de suas tropas.

O exército de Tebas era menor do que o dos espartanos, sendo composto por apenas 6.000 hoplitas (incluindo o Batalhão Sagrado), 1.500 na infantaria leve e 1.000 na cavalaria. Antecipando a tática espartana padrão de flanquear os exércitos inimigos com sua ala direita, Epaminondas, que lutava ao lado de seu amado Asópico, concentrou suas forças em sua própria ala esquerda, diretamente em frente à mais forte falange esparciata, liderada por Cleombroto. Aqui, a falange tebana foi arranjada em uma profundidade não convencional de cinquenta homens. O resto das linhas tebanas foram reduzidas a profundidades de apenas quatro a no máximo oito homens por causa disso. Epaminondas também copiou Cleombroto, colocando sua cavalaria na frente das linhas de Tebas. A posição original do Batalhão Sagrado sendo liderada por Pelópidas é desconhecida. Alguns historiadores militares acreditam que Epaminondas colocou Pelópidas e o Batalhão Sagrado atrás da falange hoplita principal, outros acreditam que ele o colocou na frente da falange hoplita principal e atrás da cavalaria, enquanto outros que o colocaram no canto esquerdo da frente da falange hoplita principal (o mais provável). De qualquer maneira, sabe-se definitivamente que o Batalhão Sagrado estava na ala esquerda, perto das principais forças de Tebas e destacado o suficiente para poder manobrar livremente.

Batalhão Sagrado de Tebas – Batalha de Lêuctra
Batalha de Lêuctra, de Igor Dzis
A batalha começou com um ataque da cavalaria de ambos os exércitos. A cavalaria espartana foi rapidamente derrotada pela cavalaria tebana superior e perseguida de volta até o seu próprio lado. O recuo desordenado deles rompeu as linhas de batalha da infantaria pesada espartana e, por causa do caos resultante e da poeira, os espartanos foram incapazes de observar o avanço incomum do exército de Tebas até o último instante. Epaminondas havia ordenado que suas tropas avançassem na diagonal, de modo que a ala esquerda do exército tebano (com sua concentração de forças) impactasse com a ala direita do exército espartano bem antes das outras falanges mais fracas. A extremidade direita da falange tebana estava até mesmo se retirando para tornar isso possível. Este é o primeiro exemplo registrado da formação militar mais tarde conhecida como ordem oblíqua. A cavalaria tebana também ajudou, continuando a realizar ataques intermitentes ao longo das linhas de batalha espartanas, impedindo o avanço. (você pode ver um esquema simplificado da batalha aqui; o Batalhão Sagrado é o retângulo azul menor na parte mais baixo do esquema, logo abaixo do retângulo maior que representa o grosso do exército tebano na ala esquerda rompendo a ala direita espartana)

Batalhão Sagrado de Tebas – Batalha de Lêuctra
Tropaion da Batalha de Lêuctra
(dois arautos com seus cajados são vistos ao fundo 
[autor desconhecido])
Quando os espartanos perceberam que algo incomum estava acontecendo, já era tarde demais. Pouco antes de a ala esquerda tebana ter entrado em contato, os espartanos rapidamente estenderam a ala direita na tentativa de flanquear e engolir os tebanos que se aproximavam rapidamente. Essa era uma tática tradicional e, uma vez que os tebanos estavam ao alcance, a ala esticada seria então trazida de volta em um movimento envolvente. Atuando por sua própria iniciativa, Pelópidas rapidamente liderou o Batalhão Sagrado à frente da ala esquerda tebana para interceptar a manobra espartana antes que ela pudesse ser concluída. Eles conseguiram segurar os espartanos no lugar até que o resto da infantaria pesada tebana finalmente se chocasse contra a ala direita espartana. O grande número de tebanos dominou rapidamente a ala direita espartana. O número de baixas espartanas totalizou cerca de 1.000 mortos, entre os quais 400 esparciatas e seu próprio rei. O flanco direito espartano foi forçado a recuar (depois de recuperar o corpo de Cleombroto). Vendo os esparciatas fugindo em desordem, as falanges de periecos também romperam as fileiras e recuaram. Embora alguns espartanos fossem a favor de retomar a batalha para recuperar os corpos de seus mortos, os periecos aliados da ala esquerda espartana estavam menos do que dispostos a continuar lutando (de fato, alguns deles ficaram bastante satisfeitos com a virada dos eventos). Os polemarcos restantes acabaram decidindo solicitar uma trégua, que os tebanos concederam prontamente. Os espartanos mortos foram devolvidos e um tropaion foi montado no campo de batalha pelos tebanos para comemorar sua vitória.

Segundo Pausânias (século II EC), a Batalha de Lêuctra foi a batalha mais decisiva já travada por gregos contra gregos. Lêuctra estabeleceu a independência de Tebas do domínio espartano e lançou as bases para a expansão do poder tebano, mas possivelmente também para a supremacia eventual de Filipe II da Macedônia.

Batalhão Sagrado de Tebas – Batalha de Lêuctra
Batalha de Lêuctra, 371 AEC. Esq.: os tebanos derrotando os espartanos, autor Radu Oltean. Dir.: uma menina observando o triunfo ou tropaion erguido após a batalha, autora Sandra Delgado


EXTRA: [Vídeo] Batalha de Lêuctra (371 AEC)

 Desta vez trago o vídeo explicativo da sensacional vitória de Tebas sobre Esparta na Batalha de Lêuctra!

O autor se desculpou no primeiro comentário sobre o número do exército espartano: em vez de 1.100 homens, leia-se 11.000 homens.

Correção dada, divirta-se!


Obs.: Legendas em vários idiomas, infelizmente sem português (até a publicação deste post).

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