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"Pereçam miseravelmente aqueles que pensam que estes homens fizeram ou sofreram algo vergonhoso." (Filipe II da Macedônia sobre o Batalhão Sagrado de Tebas, o Exército de Amantes)

21 maio 2019

Androfilia Zodiacal: Gêmeos

Homossexualidade, Astrologia, Zodíaco, Mitologia, Gêmeos

 Este é o artigo especial sobre a androfilia do signo de Gêmeos, o terceiro na ordem dos signos do Zodíaco (as datas de início e fim de cada signo são as do período 2019-2020, pois as datas podem variar levemente a cada ano). Um alerta: aqui não tratarei dos aspectos astrológicos dos signos; quem quiser saber como cada signo é no amor, no sexo, no beijo, etc, o que não faltam são milhares e milhares de sites (literalmente) sobre o assunto. Então eu só faria chover no molhado (além de que eu não sou astrólogo).

Gêmeos
(21/05 a 21/06)

Gemini, os Gêmeos, era uma das 48 constelações descritas pelo astrônomo Cláudio Ptolomeu (séc. 2 EC) e permanece como uma das 88 constelações modernas. Ela é associada com os gêmeos Castor e Pólux da mitologia grega.

Na astronomia babilônica, as estrelas Castor e Pólux eram conhecidas como os Grandes Gêmeos. Os Gêmeos eram considerados deuses menores e eram chamados Meshlamta-ea and Lugal-irra, significando respectivamente "Aquele que ascendeu do Mundo Inferior" e "Poderoso Rei". Ambos os nomes podem ser entendidos como títulos de Nergal, o grande Deus babilônico das pragas e pestilências, que era rei do Mundo Inferior.

Homossexualidade na Grécia Antiga - Nascimento de Castor e Pólux, de Andrè Durand
Nascimento de Castor e Pólux, de Andrè Durand (1988)
Na mitologia grega, como já dito, Gêmeos é associada com o mito dos príncipes espartanos Castor e Pólux, filhos da rainha Leda de Esparta, irmãos de Helena de Troia e de Clitemnestra e ambos argonautas. Pólux é filho de Zeus, que seduziu Leda, enquanto Castor é filho de Tíndaro, rei de Esparta e marido de Leda. Castor e Pólux são também associados ao Fogo de Santelmo no papel deles como protetores dos marinheiros. Quando Castor morreu, já que ele era mortal, Pólux implorou que seu pai Zeus desse a Castor imortalidade, e ele deu, mas unindo os dois para sempre nos céus. Dares Frígio, sacerdote troiano do deus Hefesto, e que teria vivido antes de Homero, descreve os gêmeos como "... de cabelos loiros, olhos grandes, de pele clara, e atléticos com corpos cinzelados."

Castor e Pólux são (meio-)irmãos gêmeos, conhecidos em conjunto como Dióscuros ("Rapazes de Zeus", na Odisseia de Homero, séc. 8 AEC, onde os dois são divinos [embora sejam mortais na Ilíada do mesmo Homero]), Castores e Tindáridas ("Filhos de Tíndaro", no Catálogo de Hesíodo, séc. 7 AEC, onde os dois são mortais). A fonte mais antiga sobre Castor e Pólux serem filhos de pais diferentes (Tíndaro e Zeus, respectivamente) é o poeta tebano Píndaro (séc. 5 AEC).

Constelação de Gêmeos
Os Dióscuros são tidos como auxiliadores da humanidade e são patronos dos viajantes e marinheiros em particular, que os invocam em busca de ventos favoráveis. Seu papel como cavaleiros e boxeadores também os torna patronos dos atletas e das competições atléticas. Eles caracteristicamente intervêm nos momentos de crise, ajudando quem os honra ou confia neles.

Homossexualidade na Grécia Antiga - Orestes e Pílades ou Castor e Pólux (Grupo de San Ildefonso, Museu do Prado, Madri)
Castor e Pólux (Grupo de San Ildefonso,
Museu do Prado, Madri), também referidos
como Orestes e Pílades
Ambos eram excelentes cavaleiros e caçadores que participaram da caçada ao Javali da Calidônia e depois juntaram-se à tripulação do navio de Jasão, o Argo, como argonautas. Durante a expedição dos argonautas, Pólux tomou parte numa competição de boxe e derrotou o rei Âmicos dos bébrices, mítico povo selvagem da Bitínia (norte da atual Turquia); segundo o filólogo greco-romano Ptolomeu Heféstion de Alexandria (séc 2 EC), o deus Hermes ensinou a luta de boxe a Pólux, porque o amava profundamente. Após o retorno da viagem, os Dióscuros ajudaram Jasão e Peleu (futuro pai de Aquiles) a destruir a cidade de Iolco em vingança pela traição do seu rei Pélias.

Homossexualidade na Grécia Antiga - Orestes e Pílades ou Castor e Pólux (Grupo de San Ildefonso)
Cópias do Grupo de San Ildefonso
Castor e Pólux envolveram-se em outras aventuras, como o resgate de sua irmã Helena, que fora raptada por Teseu de Atenas a fim de desposá-la, e o Rapto das Leucípides (as princesas Febe e Hilaira), que já eram prometidas aos príncipes gêmeos Linceu e Idas da Messênia (região próxima a Esparta), primos dos Dióscuros por serem sobrinhos de Tíndaro. Com as princesas os Dióscuros tiveram filhos, mas a rixa entre os dois pares de gêmeos continuou, até o dia em que, por causa da disputa de um gado roubado, Linceu feriu mortalmente Castor e, em vingança, Pólux matou Linceu. Quando Idas estava prestes a matar Pólux, Zeus lançou um raio que matou Idas, salvando seu filho. Nessa mesma noite, o príncipe Páris de Troia, que estava de visita em Esparta, aproveitou que os pares de primos o tinha deixado a sós com Helena para brigarem no campo e raptou a princesa espartana, então já casada com Menelau, levando aos eventos que culminaram na Guerra de Troia.
Homossexualidade na Grécia Antiga - Gemini, de Victor Gadino
Gemini, de Victor Gadino

Voltando para o moribundo Castor, Pólux recebeu de Zeus a escolha de passar toda a sua vida no Monte Olimpo ou dar metade de sua imortalidade para seu irmão mortal. Ele optou pelo último, permitindo que os gêmeos alternassem entre o Olimpo e o Hades. Os irmãos se tornaram as duas estrelas mais brilhantes da constelação de Gêmeos: Castor (Alpha Geminorum) e Pólux (Beta Geminorum).

Apolo e Hércules
Árato refere-se à constelação apenas como os Gêmeos (Didymoi), sem identificar quem eles eram, mas um século depois Eratóstenes os nomeou os Dióscuros, em referência a Castor e Pólux. Uma visão alternativa, registrada por Higino, diz que a constelação representa Apolo e Hércules, ambos filhos de Zeus, mas não gêmeos. Ptolomeu chamou a constelação de os Gêmeos no Almagesto, mas em um tratado tardio e mais obscuro de astrologia, chamado Tetrabiblos, ele referiu-se a Castor como"a estrela de Apolo" e Pólux como "a estrela de Hércules", apoiando a identificação dada por Higino.

Hércules e Apolo como Os Gêmeos.
Espelho de Urânia, de Sidney Hall
Diversas cartas estelares personificam os gêmeos como Apolo e Hércules. Numa ilustração do atlas de John Flamsteed, por exemplo, um dos gêmeos é mostrado segurando uma lira e uma flecha, atributos de Apolo, enquanto o outro carrega uma maça, atributo de Hércules. A Uranografia de Johann Elert Bode descreve-os da mesma forma.

Apolo e Hércules são as duas figuras da mitologia grega, se não de todo o mundo, que mais tiveram amantes do mesmo sexo, embora os dois jamais tenham se relacionado amorosamente um com o outro. Foi Apolo, através da Pítia do Oráculo de Delfos, quem ordenou a Hércules servir ao rei Euristeu como expiação dos seus crimes, realizando os seus famosos Doze Trabalhos. Também foi Apolo quem lhe deu o nome Héracles/Hércules, pois antes o herói tinha o nome de Alcides (por ser neto de Alceu, filho de Perseu).

Culto
Os Dióscuros eram adorados pelos gregos e pelos romanos, assim como são pelos atuais helenos (seguidores do Helenismo, religião que cultua os deuses e heróis gregos); existiam templos em Atenas, como o Anakeion ("Templo dos Senhores [Dióscuros]") perto da acrópole, e em Roma, assim como em muitos outros lugares do mundo antigo.
Homossexualidade na Grécia Antiga - Os Dióscuros no Capitólio de Roma
Os Dióscuros no Capitólio de Roma
Como príncipes espartanos, eles eram particularmente importantes em Esparta, onde eram associados com a tradição espartana da realeza dual (dois reis governavam juntos em Esparta). Quando o exército espartano marchava para a guerra, um rei permanecia em casa, acompanhado por um dos Gêmeos. "Dessa forma, a ordem política real é assegurada no reino dos Deuses". O heroon (túmulo-templo dedicado a heróis) deles ficava no topo de uma montanha em Terapne, cruzando o rio Eurotas a partir de Esparta, em um santuário chamado Menelaeion, onde Helena, Menelau, Castor e Pólux estavam todos enterrados. O próprio Castor era venerado na região de Kastoria, no norte da Grécia.

Homossexualidade na Grécia Antiga - Os Dióscuros no Capitólio de Roma
Homossexualidade na Grécia Antiga - Os Dióscuros no Capitólio de RomaEles eram comemorados tanto como Deuses Olímpicos dignos de holocausto (sacrifício queimado) e como mortais falecidos no Hades, cujos espíritos tinham que ser propiciados por libações (verter líquidos ou grãos no solo). A pereira (pé de pera) era considera pelos espartanos como uma árvore sagrada a Castor e Pólux, e imagens dos gêmeos trazem-nos pendurados em galhos de pereira. O juramento padrão dos espartanos era dizer "pelos dois deuses". Era comum os gregos antigos conjurarem as duas divindades pondo uma mesa com comida; isso podia ser feito tanto na casa de uma pessoa comum como em espaços destinados a banquetes públicos. Imaginava-se que eles chegavam galopando em seus cavalos sobre a mesa. Também se diz que os Dióscuros são os inventores das danças de guerra.

Os romanos acreditavam que os Gêmeos os ajudavam no campo de batalha. Seu papel como cavaleiros fazia deles particularmente atrativos para os cavaleiros romanos. A cada dia 15 de julho, dia consagrado aos Dióscuros, 1.800 cavaleiros desfilavam numa parada pelas ruas de Roma.

Hermes-Mercúrio, o regente
Mercúrio é o planeta regente do signo de Gêmeos. Na mitologia romana, Mercúrio é o mensageiro dos Deuses, notável por sua velocidade e agilidade; na mitologia grega ele é chamado de Hermes, deus fálico e ambífilo (isto é, que ama os dois sexos). Entre os muitos atributos desse deus, ele governa a comunicação, as viagens, as estradas, o comércio, a educação, os irmãos e primos, a expressão e os relacionamentos (inclusive relacionamentos sexuais), era o deus da natureza, rebanhos, magia, religião, adivinhação e esportes.

Homossexualidade na Grécia Antiga - Mercúrio inventando o Caduceu, de Antonin Idrac
Mercúrio inventando o Caduceu, de Antonin Idrac (1879)
Não é à toa que Hermes demonstra apaixonado interesse em jovens talentosos, atléticos e/ou que possuam irmãos, notadamente irmãos gêmeos: o jovem pastor siciliano Dáfnis, inventor da poesia pastoral; o príncipe Anfião, filho de Zeus e irmão gêmeo de Zetes, a quem Hermes ensinou canto e música e deu-lhe a mágica lira dourada, cuja música fazia as pedras se empilharem sozinhas, formando a impenetrável muralha de Tebas; o troiano Crises, famoso sacerdote de Apolo e irmão de Brises (também sacerdote e pai de Briseis, escrava de Aquiles na Guerra de Troia); o atleta Croco, que, semelhante a Jacinto, amado por Apolo, foi morto acidentalmente por Hermes num jogo de disco e teve seu corpo transformado na flor de açafrão; e Perseu, filho de Zeus e exímio atleta, o matador de Medusa e salvador de Andrômeda, a quem Hermes emprestou suas sandálias aladas na sua busca pelo covil da górgona. Hermes amou-os todos, segundo diversas fontes antigas. Além desses, Hermes também ajudou Hércules, filho de Zeus e que tinha um meio-irmão gêmeo chamado Íficles, pai de Iolaus, o mais importante amante masculino de Hércules; aliás, um dos filhos de Hermes, o belo herói Abdero, foi amante de Hércules também, morto ao oitavo trabalho deste: foi parcialmente comido pelas éguas antropófagas do rei Diomedes (em memória dele, Hércules fundou a cidade de Abdera próximo à tumba de Abdero, onde jogos atléticos consistindo de boxe, pancrácio e luta greco-romana foram realizados em honra dele, por supostamente serem estilos de luta que Abdero, filho de Hermes, dominava bem). Em uma variante do mito diz-se que Abdero foi não filho, mas amante de Hermes.

Homossexualidade na Grécia Antiga - Mercúrio, de Otho Cushing
Mercúrio, de Otho Cushing
Homossexualidade na Grécia Antiga - Mercúrio de Bicicleta, de Otho Cushing
Mercúrio de Bicicleta,
de Otho Cushing (1871-1942)
Porém, e retornando ao tema central deste artigo, Hermes também amou o jovem príncipe Pólux, que, como já vimos, é outro filho de Zeus e irmão gêmeo de Castor. Pólux era um exímio boxeador, tendo vencido todas as competições dessa luta de que participou, e Hermes foi o seu apaixonado mestre.

Hermes, junto com Hércules e Eros, eram os patronos dos ginásios e palestras, locais onde os homens e rapazes se reuniam para praticar exercícios físicos, notadamente nus, e eram espaços onde se afirmavam as relações de pederastia entre eles; dessa forma, essa trindade de Deuses passou a ser associada ao ritual da pederastia, cada um deles concedendo um importante atributo aos amantes masculinos: Hermes a eloquência, Hércules a força física e Eros a beleza e a lealdade.

Homossexualidade na Grécia Antiga - Gemini, Castor e Pólux ou Hércules e Apolo, de Elli Crocker
Castor e Pólux (mas com as armas de Hércules e Apolo), de Elli Crocker
É isso aí, galera. Espero que vocês tenham gostado de mais esse artigo sobre Androfilia Zodiacal. Até o próximo mês, com o signo de Câncer!

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