Chegou a vez da androfilia do signo de Touro, o segundo na ordem dos signos do Zodíaco (as datas de início e fim de cada signo são as do período 2019-2020, pois as datas podem variar levemente a cada ano). Um alerta: aqui não tratarei dos aspectos astrológicos dos signos; quem quiser saber como cada signo é no amor, no sexo, no beijo, etc, o que não faltam são milhares e milhares de sites (literalmente) sobre o assunto. Então eu só faria chover no molhado (além de que eu não sou astrólogo).
Touro
(20/04 a 21/05)
Touro é uma das constelações mais antigas, datando pelo menos do início da Idade do Bronze, quando ela marcava a posição do Sol durante o equinócio de primavera no hemisfério norte (que hoje está em Áries). Sua importância para o calendário agrário influenciou inúmeras figuras de touros nas mitologias da Suméria, Acádia, Assíria, Babilônia, Egito, Grécia e Roma.
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Épico de Gilgamesh: à esquerda, Gilgamesh e Enkidu (como um homem-touro) enfrentam o Touro do Céu; à direita, Gilgamesh luta com um leão |
O rapto de Europa, de Francisco Goya (1772) |
Na mitologia grega, Touro foi identificado com Zeus, que assumiu a forma de um magnífico touro branco para raptar a princesa Europa da Fenícia. Nas ilustrações da mitologia grega, apenas a parte frontal desta constelação é representada; isso às vezes era explicado porque o Touro estava parcialmente submerso enquanto levava Europa pelo mar (e é provavelmente uma reminiscência da estória em que Enkidu matou o Touro e jogou a parte traseira dele em outra parte do céu). Um segundo mito grego retrata Touro como Io, uma das amantes de Zeus. Para esconder sua amante de sua esposa Hera, Zeus mudou Io para a forma de uma novilha. Já o mitógrafo grego Acusilaus identifica Touro como aquele que formou o mito do Touro de Creta, um dos Doze Trabalhos de Héracles.
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Constelação de Touro |
Infelizmente, assim como Áries, o mito da constelação de Touro não traz muitas informações em que podemos identificar aspectos homoeróticos, e mesmo a relação homoerótica entre os heróis babilônicos Gilgamesh e Enkidu só foi evidenciada nos tempos modernos, sem uma base muito sólida para isso [Atualização em set/2022: na verdade a estória de Gilgamesh e Enkidu realmente os mostra como um casal romântico, como eu descobri mais recentemente, e isso, claro, ganhará um artigo especial aqui no blog]. Assim, acabaremos encontrando esses aspectos homoeróticos em mitos relacionados ao da constelação de Touro, como aqueles sobre dois três filhos nascidos de Zeus-Touro e Europa, Minos, Radamanto e Sarpédon, e também de Glauco, filho de Minos, e visões homoeróticas do combate entre Teseu e o Minotauro.
Minos era o filho mais velho de Zeus e Europa, irmão de Radamanto e Sarpédon, e foi o mais famoso rei de Creta, tendo vivido três gerações antes da Guerra de Troia. A cada nove anos, ele obrigava o rei Egeu de Atenas a escolher sete rapazes e sete moças para serem enviados para a criação de Dédalo, o labirinto, para serem comidos pelo Minotauro. Após a sua morte, Minos tornou-se um juiz dos mortos no Submundo.
Ele exilou seus dois irmãos, rivais pelo trono de Creta. Radamanto, que era o legislador de Creta e muito popular por conta de suas leis severas, porém justas, teve que se refugiar na Beócia, onde se casou com Alcmena, viúva de Anfitrião e mãe de Héracles (Hércules); teria sido Radamanto quem ensinou Hércules a manejar arco e flechas. Após a sua morte, Radamanto também foi tornado um dos juízes do Submundo. Uma versão do mito diz que Radamanto amou Talos, o autômato de bronze criado por Hefesto por ordem de Zeus para proteger Europa.
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Afresco do salto sobre o touro em Cnossos, capital da antiga Creta |
Além de Atímnio, uma versão do mito conta que Minos, e não Zeus, sequestrou Ganimedes, dando início à pederastia em Creta, que se diz ter sido o primeiro lugar do mundo grego a adotar esse costume. E outra versão menciona que Minos amou também Teseu, príncipe de Atenas. Minos abandonou sua inimizade com os atenienses, embora ela tenha se originado em consequência da morte de um de seus filhos, por amor a Teseu; e ele deu sua filha Fedra como esposa a ele.
Minos teve vários filhos, todos eles com a sua esposa, a rainha Pasífae, filha de Hélio, o Deus-Sol. Entre os mesmos havia o príncipe Glauco, cujo mito relata a sua morte e a sua ressurreição.
Um dia, enquanto jogava bola ou perseguia um rato, Glauco caiu numa grande jarra de mel e morreu afogado. Incapazes de encontrar o filho, seus pais consultaram um oráculo, que lhes contou que "Uma maravilhosa criatura nasceu entre os seus: quem encontrar a verdadeira semelhança com essa criatura também encontrará o filho."
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Poliidos e Glauco, com as duas serpentes embaixo (460-450 AEC) |
Minos se recusou a deixar Poliidos partir de Creta até que ele ensinasse a Glauco a arte da adivinhação. Poliidos atendeu a ordem, mas, no último momento antes de partir, ele pediu ao príncipe que cuspisse em sua boca. Glauco cuspiu e esqueceu tudo o que aprendera. A história de Poliidos e Glauco foi tema de uma peça perdida atribuída a Eurípides, chamada Belerofonte (onde Poliidos ensinou o herói Belerofonte a como domar o cavalo alado Pégaso para poder enfrentar a Quimera), e de outra de Sófocles, chamada Os Adivinhos. Glauco mais tarde liderou um exército que atacou a Itália, apresentando-lhes a cinta militar e o escudo. Esta foi a fonte de seu nome italiano, Labicus, que significa "cingido" ("usando um cinto"). Glauco teve uma filha chamada Deífobe, que era uma sacerdotisa de Febo Apolo e Diana Trívia que aparece no Livro 6 da Eneida.
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Antoine-Louis Barye (1843) |
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Antonio Canova (1781) |
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