Aviso aos nossos inimigos:

"Pereçam miseravelmente aqueles que pensam que estes homens fizeram ou sofreram algo vergonhoso." (Filipe II da Macedônia sobre o Batalhão Sagrado de Tebas, o Exército de Amantes)

20 março 2019

Androfilia Zodiacal: Áries

Homossexualidade, Astrologia, Zodíaco, Mitologia, Áries

Feliz Ano Novo, pessoal!

O quê? Você não está entendendo? Não era para eu falar do signo de Áries? Calma, que eu vou explicar.

No calendário cristão ocidental, que nós, brasileiros, utilizamos, o início do Ano Novo se comemora na passagem de 31 de dezembro para 01 de janeiro. É o chamado calendário gregoriano, pois foi introduzido pelo Papa Gregório XIII em outubro de 1582, e é o calendário civil mais utilizado no mundo.

Mas ele não é o único e muito menos o mais antigo.

Muitas culturas antigas utilizavam e ainda utilizam o dia do equinócio de Áries, em torno do dia 20 de março (mais conhecido como hoje!) para marcar o início do calendário, seguindo os meses na mesma quantidade e duração dos signos do Zodíaco, e alguns até nomeiam seus meses baseados nos signos, ou, melhor dizendo, nas constelações do Zodíaco, como os calendários persas do Irã e do Afeganistão, além dos curdos (Turquia, Irã, Iraque e Síria) e pashtos (Afeganistão e Paquistão). É o calendário ideal para quem quer marcar o tempo com o passar das estações do ano (o que faz muito mais sentido).

Os equinócios acontecem duas vezes por ano, quando o Sol fica perfeitamente alinhado com a linha do Equador (palavra que significa "igualador", pois divide a Terra em dois hemisférios iguais, Norte e Sul) e o dia e a noite têm exatamente a mesma duração; a própria palavra "equinócio" tem a mesma origem etimológica, vindo do latim 'aequus' ("igual") e 'nox' ("noite"), ou seja, "noite igual [ao dia]". Assim temos o equinócio de Áries em torno de 20 março, que marca o início do outono no hemisfério Sul e da primavera no hemisfério Norte, e o equinócio de Libra em torno de 22 ou 23 de setembro, invertendo as estações nos dois hemisfério.
Outono & Primavera
Mas aí você se pergunta: o que isso tudo tem a ver com o blog SAGRADO AMOR MASCULINO???

Bem, a novidade é que, a partir de hoje e a cada início de um novo signo/mês zodiacal, irei trazer um artigo especial sobre a mitologia de cada constelação do Zodíaco, enfocando os aspectos andrófilos/masculinos em torno deles (as datas de início e fim de cada signo são as do período 2019-2020, pois as datas podem variar levemente a cada ano). Um alerta: aqui não tratarei dos aspectos astrológicos dos signos; quem quiser saber como cada signo é no amor, no sexo, no beijo, etc, o que não faltam são milhares e milhares de sítios na internet (literalmente) sobre o assunto. Então eu só faria chover no molhado (além de que eu não sou astrólogo há muito tempo).

Então, vamos lá! Como hoje é o equinócio de Áries, marcando o início do Ano Novo Zodiacal, vamos falar justamente sobre a androfilia na mitologia do primeiro signo do Zodíaco!


Áries
(20/03 a 20/04)

Mitologia de Áries - Frixo e Hele resgatados por Crisómalo, o carneiro dourado voador
Frixo e Hele resgatados pelo carneiro voador
(autor desconhecido)
Áries, o Carneiro, é baseado em Crisómalo ("Lã Dourada" em grego), filho de Poseidon e da ninfa Teófane, o carneiro alado e falante do qual veio o Velocino de Ouro e que resgatou o casal de príncipes gêmeos Frixo e Hele por ordem de Hermes, levando Frixo para as terras da Cólquida (atual Geórgia, no leste europeu). Frixo e Hele eram filhos do rei Átamas e de sua primeira esposa Néfele, a ninfa das nuvens. A segunda esposa do rei, Ino (irmã da mãe do deus Dioniso, portanto sua tia) tinha ciúmes e desejava matar os jovens. Para conseguir isso, ela induziu uma fome na região da  Beócia, onde reinavam, e então falsificou uma mensagem do Oráculo de Delfos, dizendo que Frixo deveria ser sacrificado para acabar com a fome. Átamas estava prestes a sacrificar seu filho no topo do Monte Lafístio quando Crisómalo, o carneiro alado, por ordem de Hermes e enviado por Néfele, tomou Frixo e Hele em seu dorso e voou.

Mitologia de Áries - Sonho do Velocino de Ouro, de William Prosser
Sonho do Velocino de Ouro, de William Prosser
Hele desmaiou, caiu durante o voo e se afogou no mar entre a Europa e a Ásia, que recebeu o nome de Helesponto ("Mar de Hele") em honra dela, conhecido hoje como Estreito de Dardanelos. Após aterrissar na Cólquida, Frixo sacrificou o carneiro que ingrato o rapaz a Zeus ou ao próprio Poseidon, pai de Crisómalo, e deu o Velocino (isto é, a pelagem do carneiro) a Eetes, rei da Cólquida, que o recompensou dando-lhe a filha Calcíope em noivado. Eetes pendurou a pele num carvalho do bosque sagrado de Ares onde se tornou conhecida como o Velocino de Ouro, um símbolo de autoridade e de realeza, e era guardado por um dragão que nunca dormia e por touros de bronze que sopravam fogo. A essência de Crisómalo chegou a Zeus ou Poseidon com o sacrifício, que a fixou no céu como a constelação de Áries (de Aries, "Carneiro" em latim). Anos depois, o Velocino seria tomado por Jasão e os Argonautas.
Mitologia de Áries - Frixo e Hele resgatados por Crisómalo, o carneiro dourado voador
Autor desconhecido
Constelação de Áries - Signo de Áries
Constelação de Áries
O príncipe Jasão e sua tripulação de argonautas navegaram em busca do Velocino por ordem do rei Pélias, que tinha a intenção de afastar seu sobrinho do trono de Iolcos na Tessália, pois Jasão era o herdeiro de direito após a morte do seu pai Aesão. Através da ajuda da princesa Medeia, feiticeira e filha de Eetes, os argonautas conquistaram o Velocino Dourado. Essa estória é de grande antiguidade e era conhecida nos tempos de Homero (século 8 AEC). Ela sobrevive em várias formas, variando os detalhes entre elas.
Homossexualidade na Grécia Antiga - Homossexualidade na Mitologia Grega - Jasão, de Bertel Thorvaldsen
Jasão, de Bertel Thorvaldsen (1803)
Ok, agora vocês devem estar se perguntando (de novo): onde é que está a androfilia nisso tudo? E eu respondo: de fato, até esse ponto não está, mas vamos encontrá-la entre os muitos tripulantes da nau Argo, os argonautas: os Boréadas (Calais e Zetes, filhos do vento Bóreas), Hércules (ou Héracles), Filoctetes, Iolaus, Hilas, Peleu, Télamon, Orfeu, Castor e Pólux, Atalanta, Meléagro, Eufemo, Anfião e Zeto, Admeto, Ceneu, Nestor, entre muitos outros.
Homossexualidade na Grécia Antiga - Homossexualidade na Mitologia Grega - Argonautas, Hércules e Teseu, a deusa Atena
Pintura em vaso do século 5 AEC mostrando alguns argonautas,como Hércules no centro e Teseu reclinado embaixo, e a deusa Atena, auxiliar dos heróis. no canto esquerdo
Com tantos homens másculos, jovens e sarados suando testosterona (apenas Atalanta e, depois, Medeia eram as únicas mulheres no navio), navegando juntos, velejando no mar aberto durante meses e meses, dormindo, bebendo e cantando com o sol a pino ou sob a luz do luar, não é de se estranhar que, numa cultura tão másculo-homoerótica como a grega antiga, muitos autores tenham identificado ali diversos personagens a amar o mesmo sexo e relacionamentos íntimos entre eles, tais como:

1. Hércules, que levou seus amantes Iolaus, Hilas, Filoctetes, Ífito e Nestor com ele um verdadeiro harém;

2. Admeto, que foi amante de Apolo e depois casou-se com Alceste, filha do rei Pélias e prima de Jasão. Durante a expedição ele também se envolveu num curto romance com Hércules o passa-rodo, segundo Plutarco;

3. Orfeu e o boréada Calais, que se conheceram e se apaixonaram na viagem. Apesar de Orfeu ter posteriormente se casado com a ninfa Eurídice, ele era mais conhecido pelo seu amor por rapazes (fora ela, ele recusou todas as pretendentes do sexo feminino) e foi morto por causa disso, especialmente por não esquecer Calais (mas isso é assunto para um futuro artigo especial sobre Orfeu);

Homossexualidade na Grécia Antiga - Homossexualidade na Mitologia Grega - Jasão e os Argonautas, Jason and the Argonaus (2000 miniseries movie)
Filme/Minissérie de 2000
3. Pólux, irmão gêmeo de Castor, foi amado por Hermes, segundo Ptolomeu Heféstion (isso, claro, será explorado quando falarmos do signo de Gêmeos, cuja constelação representa Castor e Pólux);

4. Anfião, irmão gêmeo de Zeto, também foi amado por Hermes, segundo Filostrato de Lemnos (Hermes deve ter uma coisa com gêmeos; afinal de contas, o planeta Mercúrio, nome romano do deus grego Hermes, é regente do signo de Gêmeos).

5. Teseu e Pirítoo, pois Ovídio revela que a esposa de Teseu, Fedra, sentia ciúmes por ter sido preterida pelo amor do marido ao companheiro, e Plutarco conta como eles se apaixonaram um pelo outro à primeira vista.

6. Argos, filho do próprio Jasão, foi amado por Hércules (sim, ele de novo!), que, segundo Fótio (Photius, c. 450 EC), construiu o navio e o batizou com o nome do garoto amado e por causa deste o herói acetou se juntar à tripulação.


Homossexualidade na Grécia Antiga - Homossexualidade na Mitologia Grega - Jasão e o Velocino de Ouro, de Phil Rushton
Jasão e o Velocino de Ouro, de Phil Rushton
E é isso aí. Como puderam ver, a vastíssima mitologia do signo de Áries traz um grande conteúdo andrófilo masculino, se não em torno do carneiro de lã dourada em si, pelo menos entre os vários heróis que compuseram a tripulação da Argo, os argonautas que se aventuraram e arriscaram suas vidas (e algumas foram perdidas) na busca do Velocino de Ouro.

Pouco a pouco esses personagens e relacionamentos serão abordados aqui no blog.

Até o mês que vem com o signo de Touro!

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