Aviso aos nossos inimigos:

"Pereçam miseravelmente aqueles que pensam que estes homens fizeram ou sofreram algo vergonhoso." (Filipe II da Macedônia sobre o Batalhão Sagrado de Tebas, o Exército de Amantes)

02 agosto 2020

Batalhão Sagrado de Tebas – Formação

Batalhão Sagrado de Tebas, de Angus McBride (abaixo, um soldado espartano derrotado)
Batalhão Sagrado de Tebas, de Angus McBride
(abaixo, um soldado espartano derrotado)

 O Batalhão Sagrado de Tebas (grego antigo: Ἱερὸς Λόχος, Hieròs Lókhos) foi uma tropa de soldados selecionados, constituídos por 150 pares de amantes masculinos que formavam a força de elite do exército tebano no século IV AEC, finalizando o domínio espartano sobre a Grécia. Sua predominância começou com seu papel crucial na Batalha de Lêuctra, em 371 AEC. Foi aniquilado por Felipe II da Macedônia na Batalha de Queroneia, em 2 de agosto de 338 AEC.

Formação
O registro mais antigo sobrevivente do Batalhão Sagrado pelo nome foi em 324 AEC, no discurso Contra Demóstenes pelo logógrafo ateniense Dinarco (361–291 AEC). Ele menciona o Batalhão Sagrado como sendo liderado pelo general Pelópidas e, ao lado de seu melhor amigo Epaminondas, que comandava o exército de Tebas (Beócia), foram responsáveis ​​pela derrota dos espartanos na decisiva Batalha de Lêuctra (371 AEC).

Plutarco (46–120 EC), um nativo da vila de Queroneia, é a fonte do relato sobrevivente mais substancial do Batalhão Sagrado. Ele registra que o Batalhão Sagrado foi originalmente formado pelo beotarca¹ Górgidas, logo após a expulsão da guarnição espartana que ocupava a cidadela tebana da Cadmeia. O autor macedônio do século II EC Polieno em seu Estratagemas em Guerra também registra Górgidas como o fundador do Batalhão Sagrado. No entanto, Hierônimo de Rodes (290–230 AEC), Dio Crisóstomo (40–120 EC) e Ateneu de Náucratis (200 EC) creditam Epaminondas.

Ruínas da cidadela Cadmeia na acrópole de Tebas, quartel-general do Batalhão Sagrado de Tebas
Ruínas da cidadela Cadmeia na acrópole de Tebas,
quartel-general do Batalhão Sagrado
A data exata da criação do Batalhão Sagrado, e se foi criado antes ou depois do Simpósio de Platão (424–347 AEC) e do igualmente intitulado Simpósio por seu rival Xenofonte (430–354 AEC), também tem sido debatido há muito tempo. A data geralmente aceita da criação do Batalhão Sagrado é entre 379 e 378 AEC. Antes disso, havia referências às forças de elite tebana também formada por 300 homens. Heródoto (484–425 AEC) e Tucídides (460–395 AEC) registram uma força de elite de 300 tebanos aliados aos persas, que foram aniquilados por atenienses na batalha de Plateia (479 AEC). Heródoto os descreve como "os primeiros e os melhores" (πρῶτοι καὶ ἄριστοι, protoi kai aristoi) entre os tebanos. Diodoro também registra 300 homens escolhidos (ἄνδρες ἐπίλεκτοι, andres epilektoi) presentes na Batalha de Délio (424 AEC), compostos por heníochoi (ἡνίοχοι, "cocheiros") e seus parabátai (παραβάται, "aqueles que se postam ao lado", ou "parceiros"). Embora nenhum deles mencione o Batalhão Sagrado pelo nome, eles podem ter se referido ao Batalhão Sagrado ou pelo menos a seus precursores. O historiador John Kinloch Anderson acredita que o Batalhão Sagrado esteva realmente presente em Délio, e que Górgidas não o estabeleceu, mas apenas o reformou.

Cadmeia, acrópole de Tebas, quartel-general do Batalhão Sagrado de Tebas, Assassin's Creed
Vista parcial da Cadmeia em Tebas, segundo o videogame Assassin's Creed
No antigo debate em torno das obras de Xenofonte e Platão, o Batalhão Sagrado figurava com destaque como uma maneira possível de datar qual dos dois escreveu sua versão do Simpósio primeiro. O Sócrates de Xenofonte em seu Simpósio menciona com desaprovação a prática de colocar amantes um ao lado do outro em batalha nas cidades-estado de Tebas e Elis, argumentando que, embora a prática fosse aceitável para eles, era vergonhoso para os atenienses. Tanto Platão como Xenofonte eram atenienses. Segundo o estudioso clássico britânico Sir Kenneth Dover (1920–2010), essa era uma clara alusão ao Batalhão Sagrado, refletindo a consciência contemporânea, embora anacrônica, de Xenofonte da prática tebana, já que a data em que se passa a obra em si é c. 421 AEC.

No entanto, é o discurso do personagem Fedro no Simpósio de Platão referindo-se a um "exército de amantes" que é mais famosamente conectado com o Batalhão Sagrado; mesmo que não se refira tecnicamente ao Batalhão Sagrado, já que o exército mencionado é hipotético. Dover argumenta que Platão escreveu seu Simpósio primeiro, pois o Fedro de Platão usa uma linguagem que implica que a organização ainda não existe. Ele reconhece, no entanto, que Platão pode ter simplesmente colocado a hipótese na boca de Fedro, de acordo com a suposta data pretérita em que se passa a obra (c. 401 AEC). Isso apenas mostra que Platão estava mais consciente de sua cronologia em seu Simpósio do que Xenofonte, e prova que ele estava realmente ciente do Batalhão Sagrado em seu tempo.

(continua em Composição)

Nota:
1. Beotarca (em grego: Βοιωτάρχης, Boiotarches) era o título dos chefes da Confederação Beócia, fundada em 379 AEC, após uma rebelião libertar as cidades da Beócia do domínio espartano. Havia sete beotarcas, eleitos democraticamente em sete distritos eleitorais em toda a Beócia com mandatos de um ano. Os indivíduos mais famosos a ocupar o cargo foram Górgidas, Epaminondas e Pelópidas, líderes do Batalhão Sagrado que levaram Tebas ao status hegemônico sobre a Grécia em meados do século IV AEC.


EXTRA: [Vídeo] O Batalhão Sagrado de Tebas (videogame)

Batalhão Sagrado de Tebas (videogame)
Os 300 de Tebas no videogame

 Eu não curto muito videogames, mas fico de queixo caído com as animações cada vez mais realistas que eles vêm alcançando nos últimos anos. E eu fiquei fascinado por esse vídeo recente do canal Sandokan Battles no Youtube que mostra uma incrível animação do Batalhão Sagrado de Tebas marchando para o combate e, em seguida, enfrentando o até então invencível exército espartano na sangrenta Batalha de Lêuctra!

Confiram o vídeo abaixo:

Digam aí o que acharam!

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