El Tlatoani y el Guerrero, de Felix d'Eon |
Xochipilli, de Felix d'Eon |
Antes de prosseguir, eu gostaria de dar uma explicação sobre o nome "asteca". O nome "asteca" (espanhol azteca) foi cunhado pelo cientista alemão (e andrófilo) Alexander von Humboldt (1769 – 1859), que combinou Aztlán ("lugar da garça"), sua pátria mítica, e tec(atl) "povo de". O termo "asteca" às vezes hoje se refere exclusivamente ao povo mexica de Tenochtitlan (atual Cidade do México), excluindo os mexicas da vizinha Tlatelolco, mas é mais frequentemente usado de forma muito ampla para se referir não apenas a todos os mexicas, mas também aos povos de língua náuatle do Vale do México e regiões vizinhas.
História
Segundo os relatos, os mexicas ou astecas seriam extremamente intolerantes com a homossexualidade tanto masculina como feminina, embora alguns de seus rituais públicos tivessem conotações homoeróticas. Assim, por exemplo, cultuavam a deusa Xochiquétzal, cuja contraparte masculina, com o nome de Xochipilli, protegia a prostituição masculina e a atividade homossexual entre homens em geral. A história mítica do povo asteca foi dividida em quatro "mundos", dos quais o anterior ao deles, a "Era das Flores de Xochiquétzal", havia sido "uma vida fácil, fraca, de sodomia, perversão, da dança das flores e de adoração a Xochiquétzal", em que as "virtudes viris de guerra, administração e sabedoria" foram esquecidas. É possível que esta história faça referência aos toltecas. O autor Richard Texler, em seu livro Sex and the Conquest ("Sexo e a Conquista"), afirmou que os astecas convertiam alguns dos inimigos conquistados em escravos sexuais, seguindo a metáfora de que a penetração é um sinal de poder.
Alguns autores afirmam que essas leis estritas não eram usadas na prática e que o amor e o sexo entre pessoas do mesmo sexo eram relativamente livres. Por exemplo, citam crônicas espanholas que falam de sodomia generalizada que incluía crianças de até 6 anos ou de crianças vestidas de mulher para praticar a prostituição. As crônicas também falam de atos religiosos em que a sodomia era praticada. (De novo, lembremos que tudo isso, seja com um viés negativo ou com um viés positivo, pode ter sido usado como propaganda e não como fatos reais nas guerras da conquista espanhola.)
Los Principes Mexicas, de Felix d'Eon |
Deve-se notar que muitos códices escritos pelos mexicas sobre este assunto foram adulterados e/ou destruídos pelos espanhóis.
Apesar do puritanismo dos mexicas, os costumes sexuais dos povos conquistados pelo Império Asteca variavam muito. Por exemplo, o conquistador do século XVI Bernal Díaz del Castillo fala de homossexualidade entre as classes dominantes, prostituição de jovens e travestismo na área de Veracruz. Os yauyos tinham casas de prostituição cheias de homens com rostos pintados e roupas femininas.
Já os toltecas, que os mexicas conquistaram em torno do ano 1000, eram extremamente tolerantes com a homossexualidade. Extremamente tolerantes ao sexo, até mesmo os maias, que celebravam o amor masculino, ficavam chocados com as exibições públicas de sexo e erotismo dos toltecas.
Mitologia
Tezcatlipoca e Yaotl
Como era de se esperar de uma cultura que supostamente era intolerante à sexualidade entre pessoas do mesmo gênero, poucos são os relatos mitológicos do povo mexica/asteca sobre isso. Um nome que se destaca é o do grande deus Tezcatlipoca, uma divindade central na religião asteca. Ele é associado a muitos conceitos diferentes, como céu noturno, furacões, jaguar, obsidiana, beleza, poder e conflito. Ele é considerado um dos quatro filhos de Ometecuhtli e Omecihuatl, a divindade dual primordial. Seu principal festival era o Toxcatl, que envolvia sacrifícios humanos.
Tezcatlipoca retratado no Códice Rios no aspecto de um Jaguar |
Ainda que isso seja um caso de travestismo mágico, ainda são dois deuses masculinos dispostos a fazer sexo com alguém do mesmo sexo, mesmo que isso significasse trocar temporariamente de sexo para realizar a copulação mágica já que penetração anal seria um ultraje para eles.
Xochipilli
Xochiquétzal, a "Preciosa Flor Emplumada", como muitos outros deuses/deusas astecas, tem um aspecto dual masculino/feminino e era conhecida como Xochipilli no aspecto masculino e, como tal, era adorado como o deus da homossexualidade e da prostituição masculinas.
Xochiquetzal (esq.) e Xochipilli. Códice Fejérváry-Mayer |
Xochipilli, deus asteca do amor masculino |
Como patrono da escrita e da pintura, ele era chamado de Chicomexochitl, o "Sete Flores", mas também poderia ser referido como Macuilxochitl, "Cinco Flores". Ele era o patrono do jogo patolli. Ele é frequentemente emparelhado com Xochiquétzal, que é vista como sua contraparte feminina. Xochipilli também foi interpretado como o patrono da homossexualidade e da prostituição masculinas, um papel possivelmente resultante de ele ser absorvido da civilização tolteca pelos mexicas.
Ele, entre outros deuses, é retratado usando um talismã conhecido como oyohualli, que era um pingente em forma de lágrima feito de madrepérola.
Estátua de Xochipilli
Xochipilli |
A arqueóloga mexicana Laurette Séjourné (1914 – 2003) escreveu: "Os textos sempre usam a flor em um sentido inteiramente espiritual, e o objetivo dos colégios religiosos era fazer com que a flor do corpo desabrochasse: Esta flor não pode ser outra senão a alma. A associação do flor com o sol também é evidente. Um dos hieróglifos para o sol é uma flor de quatro pétalas, e as festas do nono mês, dedicadas a Huitzilopochtliupo [deus do sol e da guerra], eram inteiramente dedicadas a oferendas de flores."
A estátua está atualmente alojada no salão asteca do Museu Nacional de Antropologia na Cidade do México.
Xochipilli, de Joaquim Sicart |
Fontes:
Homosexuality in Pre-Columbian Mexico
Códice Chimalpopoca
Chronology of Mexican Gay History
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