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25 dezembro 2022

No "Natal" da Grécia Antiga celebrava-se o nascimento de Dioniso, tinha Falo gigante, ereções malditas e os homens festejavam Poseidon


 Como o solstício de inverno era celebrado na Grécia antiga? Homens e mulheres comemoravam separadamente, cultuava-se o Falo divino, comemorava-se o nascimento do menino Dioniso e relembravam Poseidon como o rei dos Deuses do panteão helênico. Ah, e tudo isso começou com um bando de homens sofrendo de "paudurecência"!

O solstício de inverno [no hemisfério norte e de verão no hemisfério sul] ocorre em 21 de dezembro em nosso calendário atual e marca a noite mais longa do ano no hemisfério norte. Para muitos gregos antigos que seguiam o calendário ático, o solstício de inverno era uma época de celebrações marcadas pela festa de Poseidon, o deus do mar.

As práticas religiosas variavam imensamente entre as diferentes pólis (cidades-estado) gregas. Em Elêusis, o festival chamado Haloa também era celebrado na data do solstício de inverno.

Era comemorado pelas mulheres em homenagem à deusa da colheita e da agricultura, Deméter, e os homens homenageavam Poseidon como deus das águas e da vegetação costeira, e comemorava-se o nascimento de Dioniso, deus do vinho e patrono da agricultura e do teatro. Dioniso, como Jesus, morreu e ressuscitou.

Bolas de Natal não deveriam faltar nessa época do ano.
Já imaginou a sua Árvore de Natal toda decorada com esses enfeites?

Haloa

Prostitutas dançando ao redor de um Falo gigante
durante o festival da Haloa
O festival da Haloa (Αλώα) era celebrado durante o mês Poseideon em homenagem às divindades Deméter, Dioniso e Poseidon. Era celebrado de forma mais famosa em Elêusis, uma importante pólis grega na Ática. Muito provavelmente, ocorria cerca de cinco dias após o solstício de inverno, que é quase a mesma data em que comemoramos o Natal hoje.

A Haloa parece ter sido uma celebração dos “primeiros frutos” da colheita, o que não é surpreendente dada a sua ligação com Deméter. No entanto, o festival também tinha um significado sexual.

Durante o festival, um sacrifício sem sangue (pois matar e/ou comer animais era proibido no festival) seria oferecido às divindades presidentes. Isso provavelmente era realizado no meio da tarde. Então os homens e mulheres presentes se dividiam em grupos separados, para terem mais liberdade durante a parte obcena da festa.

Os homens faziam uma grande fogueira para Poseidon enquanto as mulheres desfrutavam de um banquete obsceno dedicado a Deméter. Durante a festa, as mulheres compartilhavam bolos em forma de genitália masculina e feminina, regados com muito vinho.

Frasco-falo para guardar óleo perfumado usado por homens.
Me imagino metendo um bolo nesse formato na minha boca.
Alguns textos afirmam que este elemento da festa foi instituído após a morte do pastor Icário, depois que ele introduziu a videira na Ática. O mito diz que Dioniso presenteou Icário com a dádiva do vinho como agradecimento por sua hospitalidade. No entanto, quando Icário compartilhou esse presente com seus amigos pastores, eles confundiram os sinais de embriaguez com sinais de envenenamento e mataram Icário em retaliação. De acordo com Luciano de Samósata, Dioniso puniu os pastores assumindo a forma de uma donzela, “enlouquecendo-os de desejo sexual”. Infelizmente, quando a donzela desapareceu repentinamente, as ereções dos pastores permaneceram até que um oráculo lhes disse que eles deveriam aplacar os Deuses dedicando modelos de genitálias em argila. Esta dedicação tornou-se assim um costume do festival.

Eles também podem ter dançado em torno de totens fálicos. Piadas eróticas e linguagem explícita eram encorajadas. Costumes como esses ainda existem na Grécia. Um dos mais famosos é o Bourani, que é comemorado durante a temporada de carnaval em Tyrnavos, onde ainda cultuam Dioniso e o Falo (em breve um artigo especial sobre isso aqui no blog).

Poseidon e o solstício de inverno

"Queros só os machos aqui!"
Os antigos gregos usavam uma variedade de calendários diferentes, geralmente em uma base regional. Os atenienses usavam o calendário ático, que, ao contrário de outros calendários gregos, marcava o início do ano com o mês lunar de Hecatombeon no meio do verão (entre julho e agosto).

O oitavo mês do calendário ático foi nomeado em homenagem a Poseidon, o deus do mar. O mês Poseideon coincidia com o período entre os meses modernos de dezembro e janeiro.

Durante este mês, um festival, que era reservado aos homens, era realizado em homenagem à divindade. Os historiadores não têm certeza da data exata. Pode ter ocorrido no oitavo dia do mês Poseideon ou no próprio dia do solstício de inverno (a Haloa deste ano foi comemorada entre o pôr-do sol de 19 de dezembro e o pôr-do sol de 20 de dezembro, segundo o calendário lunar ático, usado pelos modernos helenos, seguidores da religião do Helenismo, que consideram que a Haloa ocorre no dia 26 de Poseideon).

O historiador Noel Robertson sugeriu que Poseidon, em vez de seu irmão Zeus, já foi a principal divindade da religião grega antiga. Poseidon pode ter desfrutado de autoridade suprema em algumas partes do mundo helênico durante o período micênico, que durou aproximadamente entre 1750 e 1050 AEC.

Zeus ou Poseidon — ainda não se sabe qual deles é o "Deus do Cabo Artemísio"
O solstício de inverno teria sido especialmente importante para os agricultores do mundo antigo, incluindo os antigos gregos, mas Poseidon era adorado principalmente como o deus do mar, e não como uma divindade agrícola.

No entanto, Robertson postula que Poseidon também pode ter sido adorado como um deus da água doce. Poseidon poderia ter sido venerado por regar os campos de sua irmã/consorte Deméter, a deusa da colheita e da agricultura.

Festival de Poseidon

Poseidon tem vários festivais ao longo do ano, muitas vezes marcados por certas mudanças sazonais. Não se sabe muito sobre o festival específico que ocorria por volta do solstício de inverno.

Frascos de óleos perfumados deveriam ser
uma ótima opção de presente para o amado, não?
O festival provavelmente envolvia banquetes e vinho e era exclusivo aos homens. Com base em descrições antigas de outros eventos realizados em homenagem a Poseidon, os historiadores podem fazer suposições sobre o festival do solstício de inverno.

Na Odisséia, um desses festivais foi mencionado por Homero, que escreveu: “O povo estava na praia, sacrificando touros negros como azeviche ao deus de crista azul que sacode a terra. Havia nove agrupamentos, quinhentos sentados em cada grupo, e nove touros foram colocados diante de cada um.”

Depois de sacrificar os touros, Homero descreveu como os participantes do festival rezavam para Poseidon, comiam sua parte dos animais do sacrifício e bebiam grandes quantidades de vinho.

Influência no Natal moderno

O Natal é comemorado pela maioria dos cristãos modernos quatro dias após o solstício de dezembro. Os antigos gregos e muitas outras sociedades europeias pré-cristãs marcavam esta época do ano com festas e festividades religiosas.

Hermes e o Infante Dioniso,
de Praxíteles
O mundo helênico foi um dos primeiros centros da fé cristã. O Novo Testamento foi escrito em grego e a cultura helênica estava presente não apenas na Grécia, mas em todo o mundo mediterrâneo, por onde os discípulos de Jesus viajavam para pregar.

Como o cristianismo assassinou substituiu as antigas religiões mediterrâneas, absorveu algumas de suas práticas e festividades. Algumas antigas celebrações gregas do solstício de inverno foram roubadas absorvidas dessa maneira.

O nascimento de Dioniso era (e é) celebrado durante o mês Poseideon, e algumas de suas características como “criança divina” e “Salvador” provavelmente foram adaptadas para a tradição natalina cristã. As cânticos eram até entoados  em homenagem ao infante Dioniso, talvez abrindo um precedente para as canções de natal que mais tarde emergiriam como uma tradição cristã.

Fonte 1/Fonte 2

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