A Escola de Platão, de Jean Delville (1898) |
O amor platônico, correntemente entendido, é um tipo de amor em que o desejo sexual ou características românticas são inexistentes ou foram suprimidos ou sublimados, mas significa mais do que "apenas amigos".
O termo é derivado do nome do filósofo grego Platão, embora o próprio filósofo nunca tenha usado o termo. O amor platônico, conforme concebido por Platão, diz respeito a elevar-se através dos níveis de proximidade com a sabedoria e a verdadeira beleza, da atração carnal por corpos individuais para atração por almas e, eventualmente, união com a verdade.
O amor platônico é contrastado com o amor romântico.
O Amor Divino Derrota o Amor Terreno, de Giovanni Baglione (1602) |
Interpretação filosófica clássica
O amor platônico é examinado no diálogo de Platão, o Simpósio (ou Banquete), que tem como tema o amor, ou mais geralmente Eros. Ele explica as possibilidades de como o sentimento de amor começou e como ele evoluiu, sexualmente e não sexualmente, e define o amor platônico genuíno como inspirar a mente e a alma de uma pessoa e direcionar sua atenção para assuntos espirituais. De particular importância é a fala de Sócrates, que atribui à profetisa Diotima uma ideia de amor platônico como meio de ascensão à contemplação do divino, subida conhecida como a "Escada do Amor". Para Diotima e Platão em geral, o uso mais correto do amor aos seres humanos é direcionar a mente para o amor à divindade. Sócrates define o amor com base em classificações separadas de gravidez (gerar filhos); gravidez do corpo, gravidez da alma e conexão direta com a existência. A gravidez do corpo resulta em crianças humanas. A gravidez da alma, o próximo passo no processo, produz "virtude" — que é a alma (verdade) se traduzindo em forma material.
"... virtude para os gregos significa auto-semelhança... nos termos de Platão, Ser ou idéia." [Rojcewicz, R. (1997). Amor platônico: o impulso do dasein em direção ao ser.]
Eros
Pausânias, no Simpósio de Platão, define dois tipos de amor conhecidos como "Eros": o Eros vulgar, ou amor terreno, e o Eros divino, ou amor divino. Pausanias define o Eros vulgar como atração material pela beleza de uma pessoa para fins de prazer físico e reprodução, e o Eros divino como partindo da atração física, mas transcendendo gradualmente ao amor pela beleza suprema, colocada em um nível semelhante ao divino. Este conceito de Eros divino foi posteriormente transformado no termo "amor platônico".
O Eros vulgar e o Eros divino eram ambos considerados conectados e parte do mesmo processo contínuo de buscar a perfeição do próprio ser, com o objetivo de consertar a natureza humana e, eventualmente, chegar a um ponto de unidade onde não há mais uma aspiração ou necessidade de mudar.
"Eros é... um momento de transcendência... na medida em que o outro nunca pode ser possuído sem ser aniquilado em seu status de outro, ponto em que o desejo e a transcendência cessariam... [Miller, P.A. (2013). Duras e amor platônico: A erótica da substituição.]
No Simpósio, Eros é discutido como um deus grego — mais especificamente, o rei dos deuses, com cada convidado da festa fazendo um elogio em louvor a Eros.
Virtude
Virtude, de acordo com a filosofia grega, é o conceito de quão perto a realidade e a forma material equivalem ao bem, ao positivo ou ao benevolente. Isso pode ser visto como uma forma de relatividade linguística.
A percepção de alguns autores modernos sobre os termos "virtude" e "bem/bom", conforme traduzidos para os idiomas modernos a partir do Simpósio, são um bom indicador desse mal-entendido. Na citação a seguir, o autor simplifica a ideia de virtude como simplesmente o que é "bem/bom".
"... o que é bom é belo, e o que é belo é bom..." [Herrmann, F. (2013). Dinâmica da visão no pensamento de Platão.]
Escada do Amor
A Escada do Amor é uma metáfora que relaciona cada passo em direção ao Ser como degraus consecutivos de uma escada. Cada passo mais próximo da verdade distancia ainda mais o amor da beleza do corpo em direção ao amor que está mais focado na sabedoria e na essência da beleza.
A escada começa com a atração carnal de corpo por corpo, progredindo para um amor por corpo e alma. Eventualmente, com o tempo, com os consequentes degraus na escada, a ideia de beleza acaba por não estar mais ligada a um corpo, mas inteiramente unida ao próprio Ser.
"[...] os seres humanos decentes devem ser gratificados, assim como aqueles que ainda não são decentes, para que se tornem mais decentes; e o amor dos decentes deve ser preservado." (187d, 17) — "conclusão" de Eryximachus do discurso de Pausânias sobre Eros
O Simpósio de Platão define dois extremos no processo do amor platônico: o inteiramente carnal e o inteiramente etéreo. Esses dois extremos de amor são vistos pelos gregos em termos de tragédia e comédia. De acordo com Diotima em sua discussão com Sócrates, para alguém alcançar o último degrau da Escada do Amor, ele essencialmente transcenderia o corpo e ascenderia à imortalidade — ganhando acesso direto ao Ser. Tal forma de amor é impossível para um mortal alcançar.
O que Platão descreve como "gravidez do corpo" é inteiramente carnal e busca prazer e beleza apenas na forma corporal. Este é o tipo de amor que, segundo Sócrates, é praticado pelos animais.
"Agora, se esses dois retratos do amor, o trágico e o cômico, são exageros, então poderíamos dizer que o retrato genuíno do amor platônico é aquele que está entre eles. O amor descrito como aquele praticado por aquelas que estão grávidos de acordo com a alma, que participa tanto do reino dos seres quanto do reino do Ser, que apreende o Ser indiretamente, pela mediação dos seres, seria um amor que Sócrates poderia praticar." [Rojcewicz, R. (1997). Amor platônico: o impulso do dasein em direção ao ser.]
Tragédia
Diotima considera a limitação carnal do ser humano à gravidez do corpo uma forma de tragédia, pois separa alguém da busca da verdade. Ficaria para sempre limitado à beleza do corpo, nunca podendo acessar a verdadeira essência da beleza.
Comédia
Diotima considera a ideia de um mortal ter acesso direto ao Ser como uma situação cômica simplesmente pela impossibilidade disso. A descendência da verdadeira virtude levaria essencialmente a um mortal alcançar a imortalidade.
Visões históricas do amor platônico
Na Idade Média, um novo interesse pelas obras de Platão, sua filosofia e sua visão do amor tornaram-se mais populares, estimulados por Georgios Gemistos Pletão durante os Concílios de Ferrara e Florença em 1438-1439. Mais tarde, em 1469, Marsílio Ficino apresentou uma teoria do amor neoplatônico, na qual definiu o amor como uma habilidade pessoal de um indivíduo, que orienta sua alma para processos cósmicos, objetivos espirituais elevados e ideias celestiais. O primeiro uso do sentido moderno do amor platônico é considerado por Ficino em uma de suas cartas.
Embora as discussões sobre amor de Platão originalmente se concentrassem em relacionamentos que eram sexuais entre membros do mesmo sexo (sobretudo entre homens), o estudioso Todd Reeser estuda como o significado do amor platônico no sentido original de Platão passou por uma transformação durante o Renascimento, levando ao sentido contemporâneo de amor heterossexual não sexual.
O termo "platônico" remonta a The Platonick Lovers, de William Davenant, uma peça de teatro apresentada em 1635, uma crítica à filosofia do amor platônico que era popular na corte de Carlos I (Rei Charles I da Inglaterra, Escócia e Irlanda). A peça foi derivada do conceito no Simpósio de Platão do amor de uma pessoa pela ideia do bem, que ele considerava estar na raiz de toda virtude e verdade. Por um breve período, o amor platônico foi um assunto de moda na corte real inglesa, especialmente no círculo em torno da Rainha Henriqueta Maria (Henrietta Maria), esposa do Rei Carlos I. O amor platônico foi o tema de algumas das mascaradas da corte realizadas na era Carolina (isto é, era de Carlos I), embora a moda para isso logo tenha diminuído sob as pressões da mudança social e política.
Fonte: Wikipedia
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