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"Pereçam miseravelmente aqueles que pensam que estes homens fizeram ou sofreram algo vergonhoso." (Filipe II da Macedônia sobre o Batalhão Sagrado de Tebas, o Exército de Amantes)

18 dezembro 2016

Rá e Osíris e o amor do Rei Neferkare e do General Sasenet

Homossexualidade no Egito Antigo - Rá, Osíris, Rei Neferkare e General Sasenet - Rá em sua barca solar
Rá em sua barca solar
A antiga história egípcia do Rei Neferkare e do General Sasenet sobrevive apenas em fragmentos. Com a sua atmosfera de mistério noturno e intriga, é dos primeiros exemplos da tradição literária de "capa e espada". Ela é frequentemente citada por pessoas interessadas em homossexualidade e em sua história como sendo prova de que uma relação do mesmo sexo existiu entre um faraó e um dos seus oficiais. Por outro lado, a literatura reflete frequentemente costumes sociais: o conto é uma censura da conduta do rei, que bem pode refletir a atitude das pessoas em relação à homossexualidade.

Homossexualidade no Egito Antigo - Rá, Osíris, Rei Neferkare e General Sasenet - Pepi II num baixo-relevo em sua pirâmide em Saqqarah
Pepi II num baixo-relevo em sua pirâmide em Saqqarah
A história é datada do final do Novo Império, apesar de ter sido composta antes e se propõe a descrever as aventuras noturnas do Faraó Pepi II Neferkare (6ª Dinastia, século XXIII AEC); alguns, como R. S. Bianchi, acham que é uma obra de literatura arcaizante (escrita num estilo anterior ao período em que foi feita) e data para bem mais recente, na 25ª Dinastia (séculos VIII e VII AEC), referindo-se a Shabaka Neferkare, um faraó cuxita (isto é, originiário do Reino de Cuxe [ou Kush], ao sul do Egito antigo [entre o sul do Egito e o norte  do Sudão atuais]).

Homossexualidade no Egito Antigo - Rá, Osíris, Rei Neferkare e General Sasenet - Gigante Rá-Osíris, os dois deuses fundidos num só. Sarcófago de Tutancâmon
Gigante Rá-Osíris,
os dois deuses fundidos num só.
Sarcófago de Tutancâmon
Ela contém uma referência ao antigo mito do deus do Sol, ou , e o deus do reino dos mortos, Osíris. Estes dois deuses existem numa relação de interdependência: Osíris precisa da luz do Sol enquanto Rá, que tem que cruzar o submundo durante a noite para alcançar o horizonte leste pela manhã, precisa dos poderes de ressurreição de Osíris (quando Rá está no mundo inferior, ele funde-se com Osíris, o deus dos mortos, e por isso se torna o deus dos mortos também). Sua união tem lugar durante as quatro horas de profunda escuridão — as mesmas horas que Neferkare passava com seu general.

O Faraó Neferkare (Pepi II) e Sasenet (ou Sisene), um comandante militar, viveram durante a 6ª Dinastia (2460-2200 AEC) no Antigo Império. Conhecidos de três cópias fragmentárias, desde as 19ª–25ª Dinastias (1295-656 AEC), este texto provavelmente também originou-se mais cedo e tinha uma longa história de leitura. Embora o início do texto esteja danificado, há uma referência a Sisene divertindo o rei "porque não havia nenhuma mulher [ou esposa] lá com ele"; e a palavra "amor [desejo]" é mencionada na linha acima.

Um pouco mais adiante, lemos que
Teti, um plebeu, viu "a divina pessoa do Rei do Alto e do Baixo Egito, Neferkare, sair durante a noite para caminhar sozinho... Teti disse a si mesmo, 'Se este for o caso, então é verdade o que é dito sobre ele, que ele sai durante a noite.' ... [Então, Teti seguiu o rei, que] chegou à casa do General Sasenet. Ele jogou uma pedra e bateu o pé, ao quê uma [escada] foi descida para ele. Ele subiu, e Teti filho de Henet esperou... Quando sua divina pessoa tivesse feito o que queria com [o general], ele retornou ao palácio, e Teti filho de Henet o seguiu..."

Homossexualidade no Egito Antigo - Rei Neferkare e General Sasenet - Osíris e Rá
Osíris e Rá
Teti então observa que o rei foi para a casa do general à quarta hora da noite [22:00] e passou quatro horas lá. Este conto salienta a natureza clandestina do romance, aponta para rumores circulando de uma "caçada" noturna do rei e aprimora o sigilo do romance descrevendo o rei sumindo para encontrar-se na casa do general. Embora a narrativa implique uma censura da homossexualidade, Neferkari não é criticado por fazer sexo com outro homem, mas por ser um mau governante."

Alguns egiptólogos sugeriram que este fragmento (incluindo o romance) transmite uma atmosfera de "corrupção real", ainda que a descrição em si seja bastante neutra em tom e sem julgamento. Ainda assim, contemporâneos podem ter considerado tal atividade por parte de um rei, que era uma encarnação da divindade, como indigna e inapropriada. Ademais, o faraó evidentemente tinha desejos homossexuais fortes o suficiente para que encontrasse um amante secreto e uma maneira noturna de satisfazê-los alegremente, pelo menos até ele ser descoberto.

Fonte 1
Fonte 2
Texto completo (em inglês)

P.S.: O nome Neferkare (Nefer-Ka-Re) significa "Belo é o Ka de Rê (Rá)". Ka é uma das muitas partes da alma (tanto a divina como a humana), de acordo com a antiga espiritualidade egípcia, e representa a essência vital. (Wikipedia)

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