Aviso aos nossos inimigos:

"Pereçam miseravelmente aqueles que pensam que estes homens fizeram ou sofreram algo vergonhoso." (Filipe II da Macedônia sobre o Batalhão Sagrado de Tebas, o Exército de Amantes)

22 setembro 2020

Flores do Amor Masculino (Especial Primavera)

Flores Gays - Eros em Rosas
Eros em Rosas, de Ryan Stephens
 Na Inglaterra vitoriana Oscar Wilde transformou o cravo verde em um símbolo para pederastas, usando um na lapela. O cálamo era associado ao amor másculo de Walt Whitman. Um bar "gay" pré-Stonewall na esquina da Christopher Street com a Gay Street chamava-se The Flower Pot ("O Vaso de Flores"). E a rosa, sagrada a Eros, é um símbolo universal do amor masculino da Grécia antiga ao Japão moderno.

Flores Gays - Eros e rosa
Eros segurando uma rosa. Pintura em cerâmica grega.
Qual é a história por trás de toda essa simbologia floral? Homens que amam homens são percebidos como delicados? Coloridos? Lindos? Frívolos? Como o crítico literário Christopher Looby observa no jornal Criticism, a obra Sodome et Gomorrhe (1921) de Marcel Proust especulou que os rituais de namoro entre homens eram semelhantes ao processo de fertilização da flor. Talvez toda a agitação sobre a extremidade norte da Ramble no Central Park de Nova York seja o motivo pelo qual aquele local de pegação foi apelidado de "Planície Frutada" ("Fruited Plain"). Tais homens eram chamados de "botânicos noturnos", "botões-de-ouro" ou "rapazes hortícolas".

Aqui está uma exploração da história e da mitologia de algumas plantas com flores em particular que foram decididamente tornadas símbolos do amor masculino.


A Rosa de Eros

Flores Gays - Rosa
Rosas
O termo bara (薔薇), "rosa" em japonês, tem sido historicamente usado no Japão como um termo pejorativo para homens que amam homens, aproximadamente equivalente ao termo em inglês "pansy" e ao "florzinha" em português. A partir da década de 1960, o termo foi reapropriado pela mídia HAH japonesa: notadamente com a antologia Ba-ra-kei: Ordeal by Roses (Ordálio pelas Rosas numa tradução livre) de 1961, uma coleção de fotografias do escritor andrófilo Yukio Mishima semi-nu pelo fotógrafo Eikoh Hosoe, e mais tarde com Barazoku (薔薇族, lit. "Tribo da Rosa") em 1971, a primeira revista "gay" produzida comercialmente na Ásia. O uso da rosa como um símbolo proeminente do amor entre os homens é supostamente derivado do mito grego do rei Laio tendo casos com rapazes sob as roseiras (uma estória que jamais encontrei ao pesquisar sobre a lenda de Laio, que na adolescência amou outro rapaz de nome Crisipo). Desde os anos 2000, bara tem sido usado pelo público não-japonês como um termo guarda-chuva para descrever uma grande variedade de mídia HAH japonesa e não-japonesa apresentando amor e sexo entre homens masculinos.

A rosa é também a flor sagrada de Eros, o deus grego do amor e do sexo, e patrono do amor entre os homens. Eros foi responsável pela primeira rosa a brotar na Terra, seguida por todas as flores e ervas. As rosas são um símbolo de pederastia na Grécia antiga: rapazes bonitos eram metaforicamente chamados de rosas por seus admiradores masculinos em poemas homoeróticos como os de Sólon, Estratão, Meléagro, Riano e Filostratos. A cor vermelha das rosas, que eram originalmente brancas segundo a mitologia grega, vejo do sangue da deusa Afrodite, que se feriu em roseiras à procura de seu amado Adônis, que havia sido morto.

Por tudo isso eu considero a rosa, sobretudo a rosa vermelha com sua simbologia de amor erótico (lembrando que "erótico" vem do nome do deus Eros e significa "romântico e/ou sexual"), como a flor-símbolo supremo do amor masculino.

A Mania do Amor-Perfeito

Como Looby observa em Flowers of Manhood ("Flores da Masculinidade"), daisy ("margarida"), buttercup ("botão-de-ouro") e especialmente pansy ("amor-perfeito"), bem como o generalizado "rapaz da horticultura" eram termos do início do século XX para "homens 'gays' extravagantes".

Flores Gays - Amor-Perfeito
Amores-perfeitos
A gíria "pansies" ("amores-perfeitos") estava em seu apogeu nas décadas de 1920 e 1930 em Nova York e em muitas outras grandes cidades dos EUA. Isso era conhecido como "mania do amor-perfeito" ("pansy craze"), um termo cunhado pelo historiador George Chauncey. Especialmente na cidade de Nova York, as drag balls ("bailes de drags") estrelando "imitadores de mulheres" eram extravagantes e enormes. A polícia acabou fechando todas elas, incluindo uma de 1939 no Harlem que encerrou uma tradição anual de 70 anos. Da mesma forma, a "mania do amor-perfeito" de Hollywood de representação DSR ([da] Diversidade Sexual e Romântica) no cinema foi finalmente encerrada pelos censores, mas não antes que esses filmes ajudassem a trazer homossexualidade para a consciência nacional dos EUA.

"Chauncey aponta que, embora a mania do amor-perfeito muitas vezes se baseasse ou reproduzisse os estereótipos mais degradantes de homens homossexuais, às vezes fornecia um espaço para alguns artistas 'gays' falarem, resistirem e até mesmo contrariarem as suposições heterossexistas sobre 'fadas' (fairies, gíria para homens afeminados) e outros 'queers'", escreveu o estudioso de cinema Mark Lynn Anderson em seu livro de 2011, Twilight of the Idols: Hollywood and the Human Sciences in 1920s America.

E ainda temos a banda de rock estadunidense Pansy Division, concebida como a primeira banda de rock abertamente "gay" apresentando músicos predominantemente "gays", a música uma mistura de pop punk e power pop, e concentrando-se principalmente em questões, sexo e relacionamentos entre iguais, muitas vezes apresentados sob uma luz humorística, tornando-se a banda de maior sucesso comercial do movimento queercore (ou homocore), que começou na década de 1980.


O Cravo Verde de Wilde

O cravo verde se tornou um símbolo de amor masculino em 1892, quando Oscar Wilde instruiu um punhado de seus amigos a usá-lo na lapela na noite de estreia de sua comédia Lady Windermere’s Fan. A partir de então, usar um cravo verde na lapela era uma dica secreta e sutil de que você era um homem que amava outros homens.

Flores Gays - Cravo Verde
Cravos verdes
Nesse mesmo ano, o amante de Wilde, Lord Alfred Douglas, escreveu um poema chamado "Two Loves" ("Dois Amores"). É uma reminiscência da poesia de Safo, pintando uma imagem de uma utopia cheia de flores (lírios, açafrões, violetas, fritilárias, pervincas, papoulas).

O poema descreve um jovem rapaz cujo “cabelo despenteado pelo vento estava entrelaçado com flores” e que usava “três correntes de rosas” ao pescoço. Ele se aproxima do poeta e o beija. “Suas bochechas estavam pálidas e brancas / Como lírios pálidos e seus lábios estavam vermelhos / Como papoulas”, Douglas continua. O rapaz revela que seu nome é “Amor” e termina dizendo: “Eu sou o amor que não ousa dizer seu nome”. Esta frase, "o amor que não ousa dizer seu nome", foi posteriormente trazida à proeminência como referência à homoafetividade no julgamento de indecência de Wilde em 1895.


Um Traço de Lavanda

Esta planta com flores da família das mentas é inseparável da homoafetividade. Embora não saibamos se "lavanda" se refere à cor ou à planta agora em um contexto DSR, de qualquer forma a palavra parece ter sido usada neste contexto desde os anos 1920. Agora é usado alternadamente com "arco-íris" para significar DSR ("LGB" ou "LGBTQ+") em eventos como Graduações de Lavanda (Lavender Graduations) e a Conferência Anual de Direito Lavanda da Ordem dos Advogados LGBT (Annual Lavender Law Conference of the LGBT Bar Association).

Flores Gays - Lavanda
Lavanda
Um dos usos mais notáveis ​​de “lavanda” vem do historiador Carl Sandburg, que escreveu em 1926 sobre o Presidente dos EUA Abraham Lincoln: “Um traço de lavanda o percorreu; ele tinha manchas suaves como violetas de maio.” Muitos interpretaram isso como significando que Lincoln tinha um lado andrófilo (e realmente há evidências de que o famoso ex-presidente estadunidense sentia atração pelo mesmo sexo). Os historiadores discordam, mas é razoável interpretar "lavanda" como significando amor do mesmo sexo aqui, uma vez que existem outros exemplos da década de 1920 de "lavanda" como uma gíria para significar isso. O verdadeiro debate está em quão amplo foi esse "traço" (= "vestígio").

Existem dois movimentos principais associados à lavanda no mundo DSR: The Lavender Scare ("O Pânico Lavanda") e The Lavender Menace (A Ameaça Lavanda). The Lavender Scare foi uma caça às bruxas dos anos 1950 contra funcionários federais que amavam o mesmo sexo, assim como o Red Scare ("Pânico Vermelho") foi contra comunistas, conforme detalhado em “The Lavender Scare and Empire: Rethinking War Cold Antigay Politics” ("O Pânico e o Império Lavanda: Repensando a Política da Guerra Fria Antigay") da historiadora Naoko Shibusawa.


O Gladíolo de Morrissey

Desde que o cantor Morrissey entrou em cena com a banda de rock inglesa The Smiths, sua sexualidade sempre foi motivo de interesse para a imprensa britânica. Escrevendo canções sexualmente ambíguas com temas de amor e luxúria, The Smiths gastou uma fortuna em gladíolos para Morrissey distribuir em shows, acenar no palco e usar no bolso de trás da calça. Quando questionado sobre o significado das flores, ele explicou que “as flores são simplesmente inocentes e bonitas e nunca causaram discórdia a ninguém”.

Flores Gays - Gladíolo
Gladíolos
Em uma carta de 1980, Morrissey descreveu a si mesmo e sua namorada como "bissexuais", embora acrescentasse que "odeia sexo". As especulações eram alimentadas ainda mais pelas frequentes referências à subcultura e gírias "gays" em suas letras. Em 2006, Liz Hoggard do jornal britânico The Independent disse: "Apenas 15 anos depois que a homossexualidade foi descriminalizada, suas letras flertavam com todo tipo de subcultura 'gay'."

Repetidamente, os entrevistadores perguntavam a Morrissey se ele era "gay", o que ele negava. Em resposta a uma dessas perguntas em 1985, ele afirmou: "Não reconheço termos como heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade e acho importante que haja alguém na música pop que seja assim. Essas palavras causam um grande dano, elas confundem pessoas e fazem as pessoas se sentirem infelizes, então eu quero acabar com elas." Em 2013, ele divulgou um comunicado que dizia: "Infelizmente, não sou homossexual. Na verdade, sou humanossexual (huma[n]sexual). Sinto atração por humanos. Mas, é claro... não muitos."


O Cálamo de Whitman

De acordo com algumas interpretações, o poeta americano Walt Whitman usava a planta cálamo para representar o amor entre homens. Os seus poemas "Calamus" ("Cálamo") são um conjunto de poemas em Leaves of Grass (Folhas de Relva), de 1855. Esses poemas celebram e promovem "o amor másculo [viril] dos camaradas". A maioria dos críticos acredita que esses poemas são as expressões mais claras de Whitman na impressão de suas ideias sobre o amor masculino.

Flores Gays - Cálamo, Walt Whitman
Cálamo
Este conjunto de poemas contém uma série de imagens e motivos que se repetem do começo ao fim. O mais importante é provavelmente a própria raiz de cálamo. O Acorus calamus é uma planta que cresce no pântano semelhante a um rabo-de-gato. Whitman continua com esta uma das imagens centrais de Leaves of Grass — cálamo é tratado como um exemplo maior da grama sobre a qual ele escreve em outro lugar. Alguns estudiosos apontaram, como razões para a escolha de Whitman, a forma fálica do que Whitman chama de "raízes tingidas de rosa" do cálamo, sua associação mitológica com o trágico amor masculino (no mito grego de Cálamo e Carpo [veja mais abaixo]) e com a escrita (pois o talo do cálamo era usado como caneta e cálamo é também o nome da ponta da pena das aves, usada antigamente como caneta ao mergulhá-la na tinta para escrever), e os supostos efeitos de alteração da mente da raiz.


O Mirto de Harmódio e Aristógito

Harmódio e Aristógito foram dois amantes na Atenas Clássica que ficaram conhecidos como os Tiranicidas pelo assassinato de Hiparco, irmão do tirano Hípias, pelo qual foram executados, abrindo caminho para as posteriores reformas democráticas de Clístenes. Os democratas atenienses mais tarde celebraram Harmódio e Aristógito como heróis nacionais.

Flores Gays - Mirto ou Murta - Harmódio e Aristógito
Mirto, ou murta
O casal armou a conspiração contra os irmãos tiranos Hiparco e Hípias depois de Hiparco ter sido rejeitado em seu cortejo por Harmódio, o mais novo do casal, e quis se vingar humilhando a irmã de Harmódio no festival mais importante de Atenas, os Jogos Panatenaicos. Harmódio e Aristógito também buscaram sua vingança, liderando a conspiração na qual, durante as celebrações dos jogos, eles esconderam seus punhais em coroas de mirto (também conhecido como murta) até poderem chegar perto o suficiente dos tiranos. Hiparco foi morto, assim como Harmódio e Aristógito, mas Hípias sobreviveu, embora ele acabasse sendo deposto do governo quatro anos depois.

Entre as muitas homenagens que o casal de heróis recebeu, esteve a composição de um hino que era cantado por todo mundo, em qualquer ocasião, para lembrá-los. Quando cantado, o cantor segurava um ramo de mirto (murta) na mão, em referência à coroa de mirto que o casal usava durante o ataque. Esta ode foi traduzida por muitos poetas modernos, como Edgar Allan Poe, que compôs seu Hino a Aristógito e Harmódio em 1827.

Garotos-Flores

Obviamente não poderíamos nos esquecer das inúmeras associações entre as flores e os contos de amor entre homens da mitologia, destacadamente a mitologia grega. Geralmente reconhecidos como divindades pré-helênicas da vegetação relacionadas ao tema da morte e ressurreição posteriormente adotadas ao panteão helênico, esses jovens, após morrerem "na flor da juventude", são muitas vezes assimilados ao culto de um deus mais importante. Em geral esses garotos-flores são utilizados ao longo da história ocidental como referências ao amor e desejo entre homens, em obras que flertam muitas vezes abertamente com o homoerotismo.

Flores Gays - Jacinto
"Jacintos" (Delfínios)
Jacinto foi um herói divino local adorado em Amiclas, próximo de Esparta, na Grécia. Amado pelos deuses Apolo e Zéfiro (e alguns dizem Bóreas também) e pelo músico mortal Tâmiris, o primeiro homem mortal a amar outro homem, a ele era dedicado o segundo mais importante festival espartano, a Jacíntia. Tendo escolhido Apolo acima de todos os outros pretendentes, foi morto pelo enciumado deus-vento Zéfiro, e de seu sangue Apolo fez brotar a flor do jacinto em memória do seu amor, renascendo a cada primavera (provavelmente não é o jacinto moderno, mas o delfínio [larkspur], como na foto ao lado). A partir disso o termo "jacinto" ou "jacíntio" é por vezes usados como sinônimo de um homem que sente atração por outros homens, e a "Operação Jacinto" (Akcja Hiacynt em polonês) foi uma operação secreta em massa da polícia comunista polonesa, realizada nos anos 1985-87, cujo objetivo era criar um banco de dados nacional de todos os homossexuais poloneses e pessoas que estivessem em contato com eles, e resultou no registro de cerca de 11.000 pessoas.

Flores Gays - Anêmona - Adônis
Anêmonas
Adônis, príncipe de Chipre e amante mortal da deusa Afrodite e depois também disputado pela deusa Perséfone e pelos deuses Apolo, Dioniso e Hércules, era um homem de tão remarcada beleza que seu nome se tornou sinônimo de beleza masculina tanto quanto o nome de Apolo. Um dia, Adônis foi ferido por um javali durante uma caçada e morreu nos braços de Afrodite enquanto ela chorava. O sangue dele se misturou com as lágrimas dela e se tornou a flor da anêmona. Afrodite declarou o festival da Adônia em comemoração à sua morte trágica, que era celebrado por mulheres todos os anos no meio do verão.  Em 1925 foi criada a religião neopagã politeísta chamada Adonismo pelo esoterista alemão Franz Sättler sob o pseudônimo Dr. Musalam, tendo Adônis como deus mais importante e em cujos cultos secretos se realizavam orgias sexuais tanto "hétero-" como "homossexuais", pregando a tolerância entre os seres humanos como sua máxima virtude.

Flores Gays - Croco, Açafrão
Flores de açafrão
Croco foi um companheiro de Hermes e foi acidentalmente morto pelo deus em um jogo de disco quando ele inesperadamente se levantou. À medida que o sangue do jovem amado pingava no solo, a flor de açafrão surgiu. Suas hastes vermelhas foram descritas como seu sangue derramado. Uma flor perene de final de verão e outono cujos estigmas amarelos são a fonte do açafrão, um tempero alimentar e corante amarelo caro. A flor, é claro, é sagrada a Hermes.

O mito é semelhante ao de Apolo e Jacinto, e pode de fato ser uma variação deste.

Flores Gays - Narciso
Narcisos
Narciso era um caçador de Téspias, na Beócia, conhecido por sua impressionante beleza. Um amigo seu chamado Amínias se apaixonou por ele, que já havia rejeitado todos os outros pretendentes. Narciso também o rejeitou e lhe deu uma espada para que ele se contentasse. Contudo, Amínias usou-a para suicidar-se à porta de Narciso após orar aos deuses para dar uma lição nele por toda a dor que ele provocou. Narciso, vendo seu próprio reflexo numa lagoa, ficou fascinado por ele e se matou porque não podia ter seu objeto de desejo, e a flor de narciso brotou de seu sangue derramado no chão. Amínias também foi transformado na planta que em grego se diz ameinasis (endro, anis [erva-doce] ou cominho, não se sabe ao certo). O mito teve uma influência decisiva na cultura homoerótica vitoriana inglesa, através do estudo do mito de André Gide, Le Traité du Narcisse (O Tratado de Narciso, 1891), e o único romance de Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray.

Flores Gays - Papoula - Hipnos e Endímion
Papoulas
Hipnos, o deus do sono na mitologia grega e irmão gêmeo de Tânatos, o deus da morte, não foi transformado em flor, mas ele sempre é visto com flores de papoulas, das quais se extrai a morfina e possui poderosas propriedades analgésicas e narcóticas, levando ao sono profundo. Hipnos pinga suco de papoula, ou seja, ópio, de sua varinha, ou de seu cálice, fazendo deuses e homens dormirem e, assim, ele é dono de um terço de nossas vidas. E foi também com esse poder que ele foi incumbido por Zeus de induzir o belíssimo pastor Endímion, filho do rei dos deuses, ao sono eterno. Hipnos ama Endímion e não fecha os olhos de seu amado apesar de estar dormindo, mas o embala para descansar com os olhos bem abertos para que ele possa desfrutar sem interrupção o prazer de contemplá-los. Ao contrário da deusa-lua Selene, que por incontáveis vezes desceu à terra para estuprá-lo (afinal, uma pessoa dormindo está inconsciente) e conceber 50 filhas com ele, Hipnos se satisfazia por apenas estar perto de seu amado, e poder admirá-lo mesmo que ele não saiba. Assim, as papoulas podem ser interpretadas como símbolo do admirador secreto, quando você ama alguém, mas por algum motivo esse alguém não tem conhecimento do seu amor.

Originalmente a papoula era um jovem chamado Mêcon. Amado pela deusa Deméter, ele morreu cedo e foi transformado por ela em papoula, que se tornou sagrada para ela.

Flores Gays - Junco - Cálamo e Carpo
Juncos da espécie
encontrada na Grécia
Cálamo ("junco", "caniço"), um jovem semideus filho do deus do rio Meandro, na Turquia, amou outro rapaz de renomada beleza, Carpo ("fruto"), filho do vento oeste Zéfiro e da ninfa da primavera Clóris. Carpo se afogou no rio Meandro enquanto os dois competiam em uma prova de natação. Em sua dor, Cálamo se permitiu afogar nas águas de seu pai também. Ele foi então transformado em um caniço-d'água (junco), cujo farfalhar ao vento é interpretado como um suspiro de lamentação.

Segundo Ovídio, a mãe de Carpo, Clóris (Flora para os romanos) foi a responsável pela transformação de Adônis, Croco, Jacinto, Narciso e outros em flores.

O junco é uma planta perene de pântano com folhas perfumadas. Seus espigões crescem em caules altos. A rústica flauta-de-pã dos antigos gregos era feita a partir dos caules escavados da planta, que, por isso, é sagrada para o deus Pã, e também por seus espigões serem um símbolo fálico. Também é sagrada para Dioniso, pois o rizoma era um aditivo para o vinho e, de novo, pelo simbolismo fálico do seu espigão. O falo é um símbolo associado a ambos os deuses.

Os poemas "Cálamo" de Walt Whitman centrados no amor másculo em Folhas de Relva, que já foram mencionados mais acima, podem ter sido inspirados por esta trágica história de amor.

Flores Gays
Buquê composto de cravos verdes, narcisos, modernos jacintos,
amores-perfeitos e, também, violetas (símbolo do amor sáfico)
(Fonte da arte)

Feliz Primavera a todos! 🌷🌸🌹🌺🌻🌼

Nenhum comentário:

O Guerreiro Aquileu

 Embora não estejamos lutando uma guerra tradicional, somos soldados mesmo assim, soldados que, quando chamados, desembainharão suas espadas...