Bas Uterwijk é um artista que mora em Amsterdã, Países Baixos, e que usa redes neurais para gerar imagens de rostos realistas a partir de pinturas ou esculturas históricas, com grande nível de detalhes, permitindo assim ter uma melhor abordagem da aparência das pessoas que viveram em uma época sem fotografias.
Os exemplos que publica em sua conta do Instagram são chocantes: Napoleão, o Davi de Michelangelo, a rainha Elizabeth I, a Estátua da Liberdade, Rembrandt, Van Gogh, Maquiavel e George Washington ganham vida graças a algoritmos que analisam a pintura e geram rostos, levando em consideração os parâmetros de um rosto normal.
Uterwijk usa um software chamado Artbreeder, explicou ele ao jornal Daily Mail. Já existem várias ferramentas capazes de criar rostos com qualidade fotográfica confiável de pessoas que realmente não existem; alguns até precisam apenas de alguns esboços simples. Aqui, em vez disso, Uterwijk tenta recuperar o rosto original que inspirou uma pintura ou escultura.
Artbreeder é um software livre que é alimentado com diferentes imagens (Uterwijk usa pinturas e fotos de esculturas) para gerar a aparência genérica de um rosto, e então o sistema usa redes gerativas antagônicas (GAN), um sistema que faz dois algoritmos competirem entre si em várias interações para refinar o realismo da imagem que estão tentando gerar.
A interesse deste blog, trago aqui em ordem cronológica as imagens geradas através do Artbreeder por Uterwijk de personagens masculinos históricos e/ou míticos que amaram o mesmo sexo:
Baseado na mais famosa escultura de nu masculino do mundo, o Davi de Michelangelo, Uterwijk reconstruiu a face do jovem herói bíblico Davi, cuja fama se deve à vitória contra o "gigante" Golias, ao seu governo como segundo rei do antigo Israel, e por seu relacionamento amoroso com o príncipe Jônatas, filho de Saul, o primeiro rei de Israel. Eles consideravam o amor que sentiam um pelo outro superior ao amor pelas mulheres. No começo do artigo podemos ver uma versão dele aloirado, e à direita uma versão amorenada (como deve ter sido mais provável).
Também conhecido como Alexandre o Grande, o maior conquistador da História tinha cabelos loiros e seus olhos apresentavam heterocromia: cada íris tinha uma cor diferente, uma era castanha e a outra, azul. O maior amor da vida de Alexandre, como é sabido, foi o seu melhor amigo desde a infância, Heféstion, que se tornou seu mais confiável general. Ele também manteve como amante o eunuco persa Bagoas, à parte de ter se casado com pelo menos três mulheres diferentes por obrigações políticas. Após a morte, Alexandre foi elevado à categoria de deus do Olimpo e Heféstion à de herói divino.
Conhecido como Jesus Cristo pelos cristãos, há séculos se debate a natureza da sexualidade da figura central do cristianismo. Jesus era um rabi que nunca se casou, contrariamente à tradição judaica, e, tirando um ou dois evangelhos apócrifos (de que eu consigo me lembrar), não há menção dele se relacionando intimamente com Maria Madalena ou com qualquer outra mulher. Contudo, abundam interpretações que tratam a relação entre Jesus e João Evangelista, um de seus doze apóstolos, como uma relação amorosa similar ao casamento; inclusive, às portas da morte na crucificação, Jesus deu João como filho para sua mãe Maria e deu Maria como mãe a João, algo que se assemelha ao costume de se considerar a esposa de um homem como filha dos pais dele. João é chamado na Bíblia de "o discípulo amado por Jesus", e foi o único homem entre seus seguidores a estar ao seu lado durante a paixão e a crucificação.
De acordo com Suetônio, historiador romano que viveu muitas décadas após a morte de Júlio César, este teria sido amante do rei Nicomedes IV da Bitínia em sua juventude, baseando-se em declarações de Cícero e de vários outros inimigos e rivais de César, o que este sempre negou. O poeta Catulo, contemporâneo de César, sugeriu em seus poemas que César e seu engenheiro Mamurra eram amantes, mas depois se desculpou por isso. E Marco Antônio acusou Otávio (que se tornaria o primeiro imperador de Roma com o nome de Otávio Augusto) de ter sido adotado por César através de favores sexuais.
Terceiro imperador de Roma, Calígula é lembrado por sua crueldade, sadismo, extravagância e perversão sexual, apesar de haver poucas fontes sobre o seu reinado, apresentando-o como um tirano insano. Além de manter relações incestuosas com suas três irmãs, mormente estuprando-as, e também de costumar estuprar as esposas de seus convidados, ele mantinha relações com seu cunhado Marco Lépido (Marcus Lepidus, que ele mandou executar) e com um ator chamado Mnester. Valério Catulo (Valerius Catullus), um jovem de família consular, proclamou publicamente que havia violado o imperador e se desgastou no "comércio" com ele.
Quinto imperador de Roma e sobrinho de Calígula, o governo de Nero foi marcado por tirania, extravagância e devassidão, tendo se tornado o imperador romano mais famoso. Muitos acreditam que ele foi o responsável pelo Grande Incêndio de Roma, durante o qual ele teria tocado sua cítara, e depois pôs a culpa nos cristãos, que ele puniu em espetáculos públicos de imensa crueldade. Nero se casou cinco vezes, duas delas com homens: o escravo adolescente Esporo (Sporus), que ele castrou e apresentava como sua esposa e imperatriz de Roma; e anteriormente Pitágoras, um homem livre, a quem Nero chamava de marido e se fez de sua noiva durante uma cerimônia pública de seu casamento.
Considerado um dos Cinco Bons Imperadores de Roma, Adriano esteve menos interessado na expansão militar do Império (embora ele fosse conhecido por sua disciplina militar) e mais no seu fortalecimento cultural, buscando tornar Atenas a capital cultural do Império. Casou-se com apenas uma mulher e não teve filhos, adotando dois homens adultos para sucedê-lo ao trono. Ele viajou por quase todas as províncias romanas para melhor administrá-las, e foi na viagem para a Bitínia (na atual Turquia) que ele conheceu Antínoo, o amor de sua vida a quem elevou à condição de deus após sua trágica morte no Egito e espalhou a religião antinoana por todo o Império Romano.
Botticelli foi um pintor italiano do início da Renascença. A reputação póstuma de Sandro Botticelli sofreu até o final do século XIX, quando ele foi redescoberto pelos pré-rafaelitas que estimularam uma reavaliação de sua obra. Desde então, suas pinturas têm representado a graça linear da pintura do início da Renascença. Suas obras mais famosas são O Nascimento de Vênus e Primavera. Botticelli nunca se casou e aparentemente expressava uma forte aversão à ideia de casamento. Especula-se há mais de um século que o próprio Botticelli pode ter sido andrófilo. Muitos escritores observaram homoerotismo em seus retratos.
O Homem Vitruviano foi criado por Leonardo da Vinci por volta do ano de 1487. É acompanhado por notas baseadas na obra do famoso arquiteto Vitrúvio Pólio (Vitruvius Pollio). O desenho, a caneta e tinta sobre papel, representa uma figura masculina nua em duas posições sobrepostas com os braços e as pernas afastados e simultaneamente inscrito num círculo e num quadrado. O desenho e o texto às vezes são chamados de Cânone das Proporções ou, menos frequentemente, Proporções do Homem. Esta imagem fornece um exemplo perfeito do grande interesse de Leonardo pelas proporções, em especial as do corpo masculino, pois é sabido que Leonardo foi um homem que amava outros homens, especialmente dois de seus pupilos, Salaì (Gian Giacomo Caprotti) e Francesco Melzi, ambos musos seus que posaram para várias de suas obras. Além disso, o Homem Vitruviano representa uma pedra angular das tentativas de Leonardo de relacionar o homem com a natureza, evidenciando o corpo masculino como divino e perfeito.
Apolo, um eterno jovem imberbe, foi o que teve mais amantes masculinos entre todos os deuses gregos. O deus da luz e da música é considerado o patrono do amor entre homens na mitologia grega, pois teve muitos amantes do sexo masculino e era frequentemente invocado para abençoar as uniões masculinas. Ele também é chamado de "o campeão do amor masculino" por Andrew Callimach, autor romeno-estadunidense que nas últimas duas décadas tem se dedicado a escrever livros sobre o amor masculino na mitologia grega, sendo o seu livro mais famoso o primeiro lançado, Lovers' Legends: The Gay Greek Myths (Lendas dos Amantes: Os Mitos Gregos Gays, numa tradução livre).
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