Para tornar-se um homem em sociedades tribais da Papua Nova Guiné, e eventualmente tomar uma esposa (para eles o casamento heterossexual é um "mal necessário"), todo garoto passa por iniciações sexuais com homens que giram em torno de práticas de inseminação. Essa "homossexualidade ritualizada" está enredada em ricos sistemas de significado e imbuídos de valores culturais locais, e não é incomum entre as sociedades tradicionais da Melanésia e aborígene da Austrália, de maneira semelhante às relações entre homens adultos e adolescentes na Grécia antiga e no Japão pré-moderno.
Entre os povos tradicionais que praticam o sexo ritual entre homens estão os simbari, os etoro e os kaluli. Contudo, sexo entre homens é probido pela lei papuásia (entre mulheres é permitido, pra variar), podendo os envolvidos serem condenados a até 14 anos de prisão.
AVISO DO DONO DESTE BLOG: O artigo a seguir fala (também) de sexo forçado com garotos a partir dos sete anos de idade. De modo ALGUM é um aval meu a essas práticas, pois sou absolutamente contra atos sexuais envolvendo pessoas de qualquer sexo abaixo dos 16 anos de idade (embora no Brasil a idade de consentimento seja de 14 anos), e absolutamente contra sexo não consensual em qualquer idade e situação. Trata-se apenas de um registro das práticas rituais homoeróticas masculinas entre esses povos tradicionais, que é o escopo maior deste blog, não sendo JAMAIS um endosso das mesmas ao envolver menores de 16 anos.
Os Simbari
O povo simbari (também conhecido como simbari anga, chamado de sâmbia por Herdt) é uma tribo de povos montanheses, caçadores e hortícolas que habitam as margens da Província das Terras Altas Orientais de Papua Nova Guiné, e são amplamente descritos pelo antropólogo estadunidense Gilbert Herdt. Os simbari — pseudônimo criado pelo próprio Herdt — são conhecidos pelos antropólogos culturais por seus atos de “homossexualidade ritualizada” e práticas de ingestão de sêmen com garotos púberes. Em seus estudos sobre os simbari, Herdt descreve as pessoas à luz da cultura sexual deles e como suas práticas moldam a masculinidade dos garotos adolescentes simbari.
Iniciação
Chupando a flauta ritual |
Ritos de passagem masculinos
Maku: Este é o primeiro rito de passagem para os meninos. Eles são separados de suas mães nesta fase e participam da sangria (onde longas varetas são inseridas em suas narinas para fazê-los sangrar), livrando-se assim da presença do sangue de suas mães neles. O povo simbari não acredita que os homens nasçam com sêmen e por isso, durante o Maku, os meninos participam da felação. Eles também são obrigados a se submeter a uma dieta rigorosa durante esse período, que é dos 7 aos 10 anos.
Perfurando as narinas para fazê-las sangrar |
Ipmangwi: Nessa fase, os meninos começam a entrar na puberdade e não precisam mais participar da felação. Eles também aprendem os papéis de gênero e como ter relações sexuais apropriadas. Uma vez que tenham aprendido isso, eles procuram uma esposa e se casam nessa fase. Também dura três anos, indo dos 13 aos 16 anos de idade.
Nupusha: Durante esta fase, os rapazes se casam e têm relações sexuais apropriadas. Essa etapa só acontece depois que as demais forem concluídas, e eles devem ter no mínimo 16 anos.
Taiketnyi: Os rapazes sofrem sangria novamente durante esta fase, já que suas esposas têm seu primeiro ciclo menstrual como mulheres casadas (ou seja, as meninas se casam antes de terem sua primeira menstruação).
Moondung: Esta fase é quando as mulheres dão à luz seu primeiro filho. Este é o passo final, e significa a conclusão dos ritos de passagem masculinos. Eles agora podem ser considerados homens adultos e respeitáveis.
Papéis de gênero e sexualidade
O povo simbari acredita na necessidade de papéis de gênero dentro de sua cultura. As relações entre homens e mulheres de todas as idades, dentro da tribo, são complexas, com muitas regras e restrições. Por exemplo, os meninos são afastados de suas mães entre os sete e nove anos para privá-los do contato com elas. Eles até realizam um ritual de sangria nos meninos após o isolamento para livrá-los do sangue de sua mãe de dentro deles, que é visto como contaminado. Essa separação se deve ao medo que sua tribo tem das mulheres, pois os homens são ensinados desde cedo sobre a capacidade das mulheres de castrar e manipular os homens. As mulheres possuem o que os simbari chamam de tingu, através do qual usam suas habilidades de manipulação. Para combater a feitiçaria das mulheres, os homens passam por ritos de passagem, nos quais aprendem a ter relações sexuais com mulheres com segurança sem ficarem metaforicamente presos. As mulheres também são separadas dos homens quando passam pelo ciclo menstrual. Durante este tempo elas ficam na "cabana da menarca" por causa da crença de que os poderes das mulheres são fortalecidos durante este período.
Capa do livro Sambia Sexual Culture, de Gilbert Herdt |
Na linguagem sexual dos simbari, a forma mais comum de sexo é chamada duvuno (literalmente, "empurrar" ou "penetrar"), que é feito através da "luta do pênis" (laakelu mulu) para se libertar de sua ereção, inserindo ou na "coisa lá de baixo" (vagina), ou pelo "buraco de bambu", metáfora que designa a boca dos garotos.
O ciclo do esperma seria aproximadamente o seguinte: partindo do princípio de que o crescimento humano se deve à ingestão de sêmen, em seu equivalente leite materno, no momento em que a mulher, previamente inseminada por via oral pelo marido, engravida, o sêmen acumulado dentro dela é transformado em tecido fetal e, depois, no leite que vai amamentar o bebê quando ele nascer. Se a criança for do sexo masculino, o sêmen ficará armazenado em seus testículos, mas se perderá com o passar dos anos. Ao atingir a puberdade, a criança começa a ser inseminada por outro jovem mais velho. Isso fará com que o corpo do menino gradualmente assuma a aparência e a força de um homem, com todos os seus atributos masculinos. Enquanto isso, o homem tem que dosar a perda de sêmen com inseminações, orais ou anais, mas sempre com homens, para não esgotá-lo desnecessariamente.
Espiritualidade
É normal que jovens noviços sintam um certo medo antes de enfrentar sua primeira felação. "Fiquei com medo", lembra Kaluto, um simbari das montanhas do leste, "porque os pênis eram enormes". No entanto, o medo rapidamente desapareceu diante da crença superior de que a ingestão de sêmen é necessária. "Se vocês não beberem o sêmen, vocês não crescerão", um ancião simbari admoestava os iniciados pré-púberes, "vocês não deveriam ter medo de comer pênis... que é como o leite da sua mãe. Você pode comer o tempo todo e crescer rápido. Um menino deve ser inseminado... Se ele não comer o sêmen, ele continua pequeno e fraco."
A espiritualidade desses povos também reside em grande parte no ciclo do sêmen. Combinando elementos naturais e sobrenaturais, essas tribos consideram que os espíritos familiares são transmitidos pelos homens através do precioso líquido que dá vida. A concepção da alma também se enquadra nessa categoria, que é entendida como produto do esperma do pai, transmitido ao filho no momento da gestação.
Modernização
Em 2006, Gilbert Herdt atualizou seus estudos sobre os simbari com a publicação de The Simbari: Ritual, Sexuality, and Change in Papua New Guinea. Ele observou que uma revolução sexual havia surpreendido os simbari na década anterior. “Ir da segregação absoluta de gênero e casamentos arranjados, com iniciação ritual universal que controlava o desenvolvimento sexual e de gênero e impunha a prática radical da inseminação de meninos, ao abandono da iniciação, vendo meninos e meninas adolescentes se beijando e dando as mãos em público, organizando seus próprios casamentos e construindo casas quadradas com uma cama para os recém-casados, como fizeram os simbari, é revolucionário."
Vários fatores contribuíram para o lento declínio e depois o abandono dos rituais tradicionais, seguido pelas mudanças revolucionárias da expressão sexual entre os simbari. Na década de 1960, a cessação forçada do governo australiano da guerra perpétua entre tribos em Papua Nova Guiné acabou levando a uma alteração significativa da identidade masculina e da cultura guerreira que há muito sustentava seus rituais de iniciação. A imigração, iniciada no final da década de 1960, também contribuiu para a mudança, pois os membros das tribos começaram a deixar as terras altas para trabalhar nas plantações costeiras de cacau, copra e seringueira. Isso expôs os simbari ao mundo exterior, com seu fast food, álcool, sexo com garotas de programa, produtos ocidentais e dinheiro. Com o passar do tempo, contribuiria para as ideias de romance e casamento como um par de iguais, em vez do tradicional modelo hierárquico antagônico.
Escolas — tanto governamentais quanto missionárias — foram introduzidas no Vale dos Simbari na década de 1970. Muito rapidamente, relata Herdt, “as escolas começaram a substituir a iniciação como principal meio de obter acesso a posições valorizadas dentro da sociedade em expansão”. A educação era mista, o que não apenas aumentou a posição social das mulheres, mas pela primeira vez na sociedade simbari os gêneros eram misturados em um espaço íntimo antes do casamento. O crescente contato com o mundo exterior levou ao surgimento de bens materiais, que minaram a economia local e a masculinidade tradicional, não mais alcançadas pela produção de bens locais (como arcos e flechas).
As missões cristãs também contribuíram para a mudança através da introdução de escolas, bens materiais e alimentos estrangeiros. Os missionários pregavam contra os xamãs, a prática da poliginia (casamento poligâmico de um homem com mais de uma mulher) e as iniciações dos garotos, envergonhando os líderes simbari que ainda defendiam atividades tradicionais. Os missionários adventistas do sétimo dia tiveram forte presença entre os simbari, introduzindo restrições alimentares levíticas, que alteraram drasticamente a dieta indígena, uma vez que porcos e gambás — “animais imundos” — não eram mais caçados. Assim, uma das principais atividades sociais e políticas dos homens simbari — a caça — foi abolida entre os convertidos adventistas.
Todos esses desenvolvimentos contribuíram para a revolução sexual entre os simbari. A cessação da guerra, as mudanças nas oportunidades para as mulheres através da escolaridade, a exposição ao mundo exterior com suas ideias (via imigração, novo governo e missionários), juntamente com as mudanças na economia no comércio de bens, aquisição de alimentos e a cessação da uma atividade social (caça) com a substituição de uma nova indústria (café) que mudou os papéis tradicionais (homens: caça, mulheres: agricultura) de modo que homens e mulheres agora se tornaram colegas de trabalho juntos em suas roças (talvez “a primeira vez na história simbari que a cooperação de gênero foi tentada”). Tudo isso preparou o cenário para o surgimento, na década de 1990, do “Luv Marriage” ("Casamento por Amor"), onde os jovens escolhiam seus próprios companheiros, sem a necessidade de separação forçada da família e iniciações homoeróticas obrigatórias (que haviam desaparecido nos anos 1980) ou ter pais arranjando os casamentos.
Povos Etoro e Kaluli
Os etoro, ou edolo, são uma tribo e grupo étnico da Papua Nova Guiné. Seu território compreende as encostas sul do Monte Sisa, ao longo da borda sul da cordilheira central da Nova Guiné, perto do Planalto Papua. Eles são bem conhecidos entre os antropólogos por causa dos atos rituais praticados entre os garotos e os homens da tribo. Os etoro acreditam que os garotos devem ingerir o sêmen dos de maior idade para atingir o status de homem adulto e amadurecer adequadamente e crescer forte.
Os etoro acreditam que para um menino atingir a masculinidade ele deve ingerir o sêmen dos maiores. Isso é realizado por meio de ritos de passagem ritualizados que exigem que os jovens iniciados do sexo masculino façam sexo oral em um membro sênior. Em contraste, seus vizinhos kaluli sustentam que a iniciação masculina só é feita adequadamente pela entrega ritual do sêmen através do ânus do iniciado, não de sua boca. Os etoro insultam essas práticas kaluli, achando-as repugnantes.
Homens kaluli |
Casamento
A maioria dos homens etoro se casa e mantém relações sexuais com suas esposas, mas medo de que o sexo homem/mulher faça com que morram mais cedo e a crença de que o sexo entre homens prolonga a vida significa que as relações homem/mulher estão voltadas apenas para a reprodução. No entanto, as relações entre sexos opostos são proibidas por até 260 dias do ano e também são proibidas dentro ou perto de suas casas e hortas. Em contraste, as relações sexuais entre homens são permitidas a qualquer momento.
Os etoro acreditam que os atos sexuais entre homens fazem as colheitas florescerem e os meninos crescerem fortes. Homens e mulheres etoro geralmente vivem separados, de modo que o contato social entre eles é geralmente limitado e muitas vezes hostil. Não surpreendentemente, suas taxas de natalidade são baixas. Para compensar esse problema e evitar o despovoamento, eles supostamente roubam crianças de sociedades vizinhas e as criam como se fossem suas.
O casamento para os kaluli não é uma escolha livre, mas é um contrato arranjado. Os anciãos instigam o ritual de ligação sem que a noiva ou o noivo saibam. O casamento é uma troca ao longo da vida com um presente ou noiva e traz comida e hospitalidade entre os clãs. Numa sociedade que privilegia as relações masculinas, assim como os demais povos tradicionais da região, relações entre homens e mulheres não são comumente baseadas em desejo mútuo.Na opinião de autores como Erik Schimmer e Shirley Lindenbaum, a homossexualidade masculina transgeracional, aquela que se estabelece entre indivíduos de diferentes idades, é em grande parte explicada pelas funções que desempenha para os homens, ajudando-os a dominar as mulheres ou a conseguir esposas de forma efetiva. Os garotos, uma vez separados de suas mães e do contato com outras mulheres, aprendem com os homens tudo o que há para saber sobre caça, agricultura e tudo o mais que um homem da tribo deve conhecer. Isso inclui o desenvolvimento de seus hábitos sexuais, que são exercidos com a ajuda de outros membros masculinos maiores da tribo, por meio de inseminações orais e às vezes anais. Em muitas dessas tribos a segregação dos sexos costuma ser bastante rígida e para toda a vida. Os homens muitas vezes vivem perto de suas esposas, mas não em mesmas residências.
Primos-Irmãos
O nome Melanésia refere-se a uma das grandes concentrações de ilhas da Oceania que compõem as nações de Papua-Nova Guiné, Ilhas Salomão, Vanuatu e Nova Caledônia. São muitos os grupos étnicos que se reúnem neste espaço geográfico, que se expressam em cerca de 350 línguas diferentes reunidas em dois grandes grupos linguísticos: os falantes das línguas papuas e os dos melanésios oceânicos. Bem, deve-se dizer que entre 10 e 20 por cento dessas tribos praticam ou praticavam compulsoriamente a cerimônia do sêmen. Embora os casos dos etoro e dos simbari tenham estudos mais aprofundados, as práticas sexuais masculinas entre eles não são casos isolados, pois existem outras tribos naquela parte do globo cujos comportamentos rituais são muito semelhantes aos deles.
Homens papuásios |
Para o povo asmat, que vive no extremo oeste da Nova Guiné, a prática da sexualidade é definida como mbai, isto é, uma "amizade" para toda a vida, semelhante ao casamento entre um homem e uma mulher. É, portanto, um caso estranho entre os povos melanésios, que concebem a cerimônia do sêmen apenas como um rito temporário que, embora ocasionalmente una duas pessoas, não necessariamente as vincula legal ou sentimentalmente. No entanto, esse tipo de relacionamento costuma ser estabelecido entre homens de diferentes níveis e idades, no estilo da pederastia grega, e nunca entre camaradas (isto é, entre homens de mesma idade e status).
'Leite de Macho', o Elixir da Vida
Todo esse complexo processo ritual não se trata de um mero ato de pedagogia peculiar, mas transcende um dogma de valores enraizado no seio dessas comunidades. Por meio de suas crenças, influenciadas pelo animismo, certas tribos, como os etoro ou os simbari, constroem seu próprio universo mágico, que afeta tudo ao seu redor e influencia sua própria existência, como indivíduos e como comunidade. Desta forma, surge uma série de ritos em torno do sêmen que parecem ter como objetivo final a coesão e preservação da masculinidade na tribo.
Homens papuásios |
Em outras palavras, o homem etoro pensa que ter relações sexuais com uma mulher, assim como masturbar-se, esgota rapidamente a efêmera quantidade de sêmen que possui, perdendo parte de sua energia e aproximando-o da morte. Não surpreende, portanto, que, a partir dessas premissas, sua masculinidade se desenvolva melhor no contato sexual com outros homens, que, por meio de inseminações orais (ou, em menor incidência, anais), serão supridos de 'leite de macho' novo e fresco. Quanto mais frequentemente um garoto/rapaz/homem é inseminado, e não há restrição à quantidade de parceiros inseminadores que ele pode ter, maior sua capacidade vital e sua masculinidade. Em troca, o inseminador obtém o prazer sexual e, o que é muito mais importante, a satisfação de ter participado da continuidade de um rito ancestral essencial para a coesão social da comunidade.
Variedades Homoeróticas Masculinas Melanésias
O antropólogo Gilbert Herdt considera que existem quatro tipos de práticas afetossexuais entre homens: aquelas estruturadas por idade, por gênero, por classe social e as igualitárias. É preciso dizer que, no caso da Melanésia, a principal regra que rege as práticas entre os homens é a idade, contextualizada em uma cultura muito particular e assimilada por meio de crenças ancestrais que foram estabelecidas geração após geração.
Nas tribos instaladas às margens do médio curso do rio Fly (sudoeste da Papua Nova Guiné, a relação anal entre homens é entendida como uma atividade necessária para o desenvolvimento físico do homem. Quando no garoto começam a surgir os primeiros pelos da barba, seus tios maternos o tiram do seio materno e, logo em seguida, o instalam na chamada "casa dos homens solteiros". Lá ele compartilhará jogos de caça e outras atividades com grupos de homens mais velhos, onde entra em jogo a possibilidade de manter relações sexuais com eles.
Homem ilhéu do pacífico |
O prazer sexual não é o denominador comum de todas essas práticas, mas a crença de que através delas o órgão sexual do jovem se desenvolverá maior e mais forte se for "treinado" com outro homem bem dotado. Para os nambas, por exemplo, um pênis grande é necessário no contexto da dominação masculina. Quando o jovem se torna adulto, pode tomar outro jovem para "treiná-lo" nessas práticas, o que o levará a alcançar um poder extraordinário no futuro.
Nesse ciclo iniciático, são curiosos os termos usados para designar os papéis de cada um, como “esposa” e “marido da irmã”. Os dubut ou guardiões são encarregados de treinar os nilagh sen ou noviços. Curiosamente, como nos informa A.B. Deacon, às vezes esses pares se comportam no estilo heteronormativo, no sentido de que pode haver ciúme por parte do "marido" cuja "esposa" mantém contato físico com outros nomes. O próprio Deacon viu relações anais entre os homens sendo realizadas em pé, na posição designada nggariik.
O Extranho Caso de East Bay
A ilha de East Bay está localizada no setor nordeste da Melanésia. O pesquisador W.H. Davenport estudou o comportamento sexual das tribos que a habitam, concluindo que constituem o único caso existente nessas cidades de prática afetossexuais entre homens de idade semelhante. De fato, Davenport insiste no fato de que adolescentes do sexo masculino fazem sexo de forma recíproca e em igualdade de condições. Casais masculinos se revezam na masturbação e, às vezes, na relação anal também. Segundo ele, nem amor nem fortes laços emocionais são desenvolvidos. São apenas favores esperados de uma boa amizade.
O próprio Davenport, em carta endereçada ao colega Gilbert Herdt, expressa sua preocupação com o fato de que essas práticas rituais estão sendo perdidas devido ao enraizamento gradual do cristianismo nessas comunidades, que avançou a passos de gigante nos últimos tempos. Por um lado, há a intervenção do governo de Papua Nova Guiné, com o apoio da igreja, curiosamente, para evitar sanções contra delitos heterossexuais extraconjugais (fornicação e adultério). Por outro lado, há a própria visão judaico-cristã e ocidental, tradicionalmente contrária ao desejo/amor/sexo entre homens, que está, sem dúvida, levando a um claro declínio nas relações masculinas.
O que está em jogo, diz Herdt, é uma ontologia, uma realidade cultural única, tão em contraste com a dos ocidentais, que o rito de inseminação de garotos, cujo aspecto erótico horroriza a mentalidade judaico-cristã, está sendo rapidamente enterrado.
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