Guerreiros azande casavam-se com rapazes antes de poderem desposar mulheres |
A discussão a seguir e os 21 exemplos são do relatório “Expanded Criminalization of Homosexuality in Uganda: A Flawed Narrative / Empirical Evidence and Strategic Alternatives from an African Perspective” ("Criminalização Expandida da Homossexualidade em Uganda: Uma Narrativa Falha / Evidência Empírica e Alternativas Estratégicas de uma Perspectiva Africana"), que foi preparado por Sexual Minorities Uganda ("Minorias Sexuais Uganda").
Em seu trabalho, os antropólogos Stephen Murray e Will Roscoe fornecem amplas evidências em apoio ao fato de que, ao longo da história da África, as relações do mesmo sexo têm sido uma “característica consistente e lógica das sociedades e sistemas de crenças africanos”.
Thabo Msibi, da Universidade de Kwazulu-Natal (África do Sul), documenta muitos exemplos na África de desejo pelo mesmo sexo sendo acomodado dentro do domínio pré-colonial.
Deborah P. Amory fala de “uma longa história de diversos povos africanos envolvidos em relações do mesmo sexo”.
Com base em estudos antropológicos das eras pré-coloniais e coloniais, é possível documentar uma vasta gama de práticas do mesmo sexo e diversas compreensões de gênero em todo o continente.
Exemplos incluem (em azul destaquei os de interesse para o blog):
Uma pintura rupestre notavelmente “explícita” dos bosquímanos, que retrata homens africanos envolvidos em atividades sexuais do mesmo sexo (imagem ao lado).Pintura rupestre dos bosquímanos de pelo menos
dois mil anos atrás retrata três homens (no alto
à esquerda) em sexo intercrural (entre as coxas).- No final da década de 1640, um adido militar holandês documentou Nzinga, uma mulher guerreira no reino Ndongo dos Mbundu, que governava como "rei" em vez de "rainha", vestida de homem e cercada de um harém de jovens rapazes que se vestiam de mulher e que eram suas “esposas”.
- O antropólogo do século XVIII, Padre J-B. Labat, documentou o Ganga-Ya-Chibanda ("Quimbanda"), sacerdote presidente dos giagues, um grupo dentro do reino do Congo, que rotineiramente se vestia como mulher e era chamado de “avó”.
- Na cultura zande tradicional e monárquica, os registros antropológicos descreviam a homossexualidade como “indígena” [N/T: isto é, "nativa"]. Os guerreiros azande do norte do Congo “casavam-se rotineiramente” com homens mais jovens que funcionavam como esposas temporárias — uma prática que foi institucionalizada a tal ponto que os guerreiros pagavam o "dote da noiva" aos pais do rapaz.
- Entre os agricultores pouhain de língua bantu nos atuais Gabão e Camarões, a relação do mesmo sexo era conhecida como bian nkû”ma — um remédio que propiciava riqueza que era transmitido através da atividade sexual entre homens.
- Da mesma forma, em Uganda, entre os langos, os homens que assumiam “status de gênero alternativo” eram conhecidos como mukodo dako. Eles eram tratados como mulheres e tinham permissão para se casar com outros homens.
- Relações entre pessoas do mesmo sexo foram relatadas entre outros grupos em Uganda, incluindo os bahimas, …
- os banyoros e…
os bagandas. Rei Mwanga II, herói e monarca baganda em Uganda, foi amplamente relatado por ter se envolvido em relações sexuais com seus súditos do sexo masculino.Rei Mwanga II de Buganda (reino
dentro de Uganda), foi um herói contra
a colonização europeia- Um jesuíta que trabalhava na África Austral em 1606 descreveu a descoberta dos “chibadi ("quimbandas"), que são homens vestidos como mulheres e se comportam como mulheres, envergonhados de serem chamados de homens”.
- No início do século XVII, na atual Angola, os padres portugueses Gaspar Azevereduc e Antonius Sequerius encontraram homens que falavam, sentavam e se vestiam como mulheres, e que se casavam com homens. Tais casamentos eram “honrados e até valorizados”.
- Nas comunidades iteso, sediadas no noroeste do Quênia e Uganda, existiam relações do mesmo sexo entre homens que se comportavam e eram socialmente aceitos como mulheres.
- Práticas do mesmo sexo também foram registradas entre os banyoros e…
- os langos.
- No Benin pré-colonial, a homossexualidade era vista como uma fase pela qual os meninos passavam e da qual cresciam.
- Havia práticas de casamentos entre mulheres entre os nandi e…
- os kisii do Quênia, bem como…
- os igbos da Nigéria,
- os nuer do Sudão e
- os kuria da Tanzânia.
- Entre os bantus do Cabo, o lesbianismo era atribuído a mulheres que estavam em processo de se tornarem adivinhas-chefes, conhecidas como isanuses.
Esta não é de maneira alguma uma lista completa. Dada a esmagadora evidência de relações do mesmo sexo pré-coloniais que continuaram nas eras colonial e pós-colonial, bem como evidências históricas de diversos entendimentos de identidade de gênero, é claro que a homossexualidade não é mais “alienígena” para a África do que é para qualquer outra parte do mundo.
Como afirmado por Murray e Roscoe, "numerosos relatórios também indicam que nas sociedades altamente segregadas por sexo da África, o comportamento e os relacionamentos homossexuais não eram incomuns entre pares, homens e mulheres, especialmente nos anos anteriores ao casamento heterossexual. Esses tipos de relações eram identificados com termos específicos e eram institucionalizados em graus variados."
O que os colonizadores impuseram à África não foi a homossexualidade, como os homofóbicos vivem repetindo e a maioria ignorante segue acreditando [N/T: gado humano tem em todo lugar, claramente], “mas sim a intolerância a ela — e sistemas de vigilância e regulação para suprimi-la”.
Via Erasing 76 Crimes.
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