Aviso aos nossos inimigos:

"Pereçam miseravelmente aqueles que pensam que estes homens fizeram ou sofreram algo vergonhoso." (Filipe II da Macedônia sobre o Batalhão Sagrado de Tebas, o Exército de Amantes)

02 agosto 2023

2 de Agosto — Apoteose do Batalhão Sagrado de Tebas, o Exército de Amantes que conquistaria toda a Humanidade

Sacred Band of Thebes warriors skeletons, Esqueletos de guerreiros do Batalhão Sagrado de Tebas
Os esqueletos dos guerreiros do Batalhão Sagrado de Tebas foram encontrados em uma vala comum no século XIX. Crédito: Ministério Helénico da Cultura e Desporto, Diretoria de Gestão do Arquivo Nacional de Monumentos, Departamento do Arquivo Histórico de Antiguidades e Restauros
 Composto por cento e cinquenta casais masculinos, o Batalhão Sagrado de Tebas, conhecido como o Exército de Amantes da Grécia antiga, permaneceu invicto em guerra durante décadas, até ser completamente exterminado numa batalha em 338 AEC, marcando o fim da era grega clássica.

Incrivelmente, foi apenas no século XIX que a vala comum desses homens foi encontrada — e mesmo assim, a descoberta foi feita apenas por acaso.

Leão de Queroneia, Batalhão Sagrado de Tebas, Sacred Band of Thebes Lion of Chaeronea Monument
O Leão de Queroneia, reconstruído em 1880. O muro baixo encerra a vala comum do Batalhão Sagrado de Tebas.
Formada como uma tropa de soldados selecionados, consistia em 150 pares de amantes masculinos que formaram a força de elite do Exército Tebano no século IV AEC, que pôs fim à dominação espartana na região.

A sua ascensão à fama começou com o seu papel crucial na Batalha de Lêuctra em 371 AEC.

O registro mais antigo do Batalhão Sagrado com esse nome foi em 324 AEC, no discurso Contra Demóstenes do orador ateniense Dinarco. Ele menciona o Batalhão Sagrado como sendo liderado por um general chamado Pelópidas.

O Batalhão Sagrado ajudou a derrotar os espartanos na Batalha de Lêuctra

Ao lado de Epaminondas, que comandava o exército de Tebas na Beócia, foram responsáveis pela derrota dos espartanos na decisiva Batalha de Lêuctra.

Batalhão Sagrado de Tebas, Batalha de Lêuctra, Theban trophy at Leuctra, Battle of Leuctra
Monumento da vitória dos tebanos em Leuctra
Plutarco (46-120 EC), natural da aldeia de Queroneia, local da derradeira derrota do Batalhão Sagrado, é a fonte do relato sobrevivente mais substancial do exército de amantes.

Ele afirmou que o Batalhão Sagrado foi originalmente formado pelo beotarca Górgidas, logo após a expulsão da guarnição espartana que ocupava a cidadela tebana de Cadmea. [Beotarcas eram os chefes militares da Confederação da Beócia]

Sócrates, no Simpósio de Xenofonte, menciona com desaprovação a prática de colocar amantes lado a lado em batalha nas cidades-estado de Tebas e Élis, argumentando que, embora a prática fosse aceitável para eles, era vergonhosa para os atenienses.

Xenofonte, assim como Platão, era ateniense. De acordo com o estudioso clássico britânico Sir Kenneth Dover, esta foi uma clara alusão ao Batalhão Sagrado, refletindo a consciência contemporânea — embora anacrônica — de Xenofonte da prática tebana, já que a data de publicação da obra de Xenofonte é cerca de 421 AEC, enquanto o Batalhão Sagrado só foi criado entre 379 e 378 AEC.

No entanto, é o discurso do personagem Fedro no Simpósio de Platão, referindo-se a um “exército de amantes”, que é mais notoriamente ligado ao Batalhão Sagrado; embora não se refira tecnicamente à unidade, já que o exército a que se refere é hipotético, muitos historiadores acreditam que ele na verdade conhecia bem o Batalhão Sagrado em sua época.

Exército iria “conquistar toda a humanidade”

No Simpósio de Platão, um diálogo sobre o amor, um dos personagens diz que um exército formado por amantes masculinos “conquistaria toda a humanidade” porque nunca demonstrariam covardia ou agiriam desonrosamente diante de seus amados.

De acordo com Plutarco, os 300 homens foram escolhidos a dedo por Górgidas puramente pela sua capacidade de luta e mérito — independentemente da classe social. O Batalhão Sagrado era composto por 150 pares de amantes constituídos por um erastês mais velho (ἐραστής, “amante”) e um erômenos mais jovem (ἐρώμενος, “amado”) [embora, para fazer parte da elite, todos eles já deveriam ser adultos (os mais jovens provavelmente deveriam ter 20 anos de idade, que era a idade comum à maioria das cidades-estado gregas quando o jovem era plenamente aceito no exército)].

Ateneu de Náucratis também registra o Batalhão Sagrado como sendo composto por “amantes e seus favoritos, indicando assim a dignidade do deus Eros no sentido de que eles abraçam uma morte gloriosa em preferência a uma vida desonrosa e repreensível”.

Guerreiros tebanos de Angus McBride, Theban warriors by Angus McBride, Batalhão Sagrado de Tebas,
Guerreiros tebanos por Angus McBride
Polieno, um estrategista militar, descreve o Batalhão Sagrado como sendo composto por homens “dedicados uns aos outros por obrigações mútuas de amor”.

Plutarco afirma que o termo “sagrado” foi usado para denotar a unidade militar por causa da troca de votos sagrados entre amante e amado no santuário de Iolaus (um dos amantes de Hércules) em Tebas, na Grécia antiga.

Em junho de 1818, durante uma visita à Grécia central, um jovem arquiteto inglês chamado George Ledwell Taylor saiu a cavalo com alguns amigos para explorar as ruínas de uma antiga cidade chamada Queroneia, na Grécia Central.

À medida que Taylor se aproximava do destino, seu cavalo tropeçou no que originalmente se pensava ser uma rocha, mas acabou sendo parte de uma escultura. Depois que Taylor e seus amigos cavaram a terra ao redor da escultura, eles finalmente revelaram a cabeça de um animal com quase um metro e oitenta de altura — como Taylor afirmou mais tarde, uma “cabeça colossal de leão”.

Ele usou o nome “o Leão” propositalmente, já que um antigo leão chamado Leão de Queroneia havia sido mencionado por escritores antigos.

Leão de Queroneia, vala comum descoberta depois de mais de 2.100 anos

Depois de ter se perdido completamente na história, Taylor soube naquele momento que havia descoberto o tesouro.

Leão de Queroneia, Batalhão Sagrado de Tebas, Sacred Band of Thebes Lion of Chaeronea Monument
Monumento do Leão de Queroneia
ao Batalhão Sagrado de Tebas
Um artigo recente na revista The New Yorker de Daniel Mendelsohn, editor-geral da New York Review of Books, afirma que o inglês já estava lendo um livro chamado “A Descrição da Grécia”, de Pausânias, na época da descoberta.

Pausânias, um geógrafo que viveu no século II EC, escreveu que a gigantesca figura do leão sentado foi erguida na Grécia antiga para comemorar uma notável unidade militar que foi dizimada perto daquele local.

Pausânias especulou que o orgulhoso animal representava “o espírito dos homens”.

Na verdade, Tyler literalmente tropeçou no monumento ao Batalhão Sagrado, que havia sido morto pelos macedônios mais de 2.100 anos antes.

Composto por trezentos guerreiros da cidade de Tebas, estava entre as forças combatentes mais temíveis da Grécia, invicto até ser exterminado na Batalha de Queroneia, em 338 AEC — um combate durante o qual Filipe II da Macedônia e seu filho, o futuro Alexandre o Grande, esmagou uma coalizão de cidades-estado gregas liderada por Atenas e Tebas.

Os estudiosos veem a batalha de Queroneia como a sentença de morte da Era Clássica da história grega.

Batalha de Queroneia, Batalhão Sagrado de Tebas, Battle of Chaeronea, from Cassell's Illustrated Universal History (1882)
Uma representação de 1882 da Batalha de Queroneia, da História Universal Ilustrada de Cassell
Sessenta anos após a notável descoberta de Taylor, novas escavações arqueológicas revelaram um grande cemitério retangular perto do Leão. Os desenhos detalhados feitos no local mostram sete fileiras de esqueletos, todos dispostos com muito cuidado, totalizando 254 homens [faltando 46 para completar os 300].

Um livro escrito pelo classicista James Romm chamado The Sacred Band: Three Hundred Theban Lovers Fighting to Save Greek Freedom ("O Batalhão Sagrado: Trezentos Amantes Tebanos Lutando Para Salvar a Liberdade Grega") é uma leitura obrigatória para qualquer pessoa interessada na história desses homens condenados e sua descoberta milagrosa após a passagem de milênios.

Publicado em 2021, o livro conta com o trabalho do ilustrador Markley Boyer, que compilou os desenhos originais, que mostram marcas pretas para indicar os ferimentos sofridos pelos guerreiros, feitos no túmulo para reconstruir toda a vala comum do Batalhão Sagrado.

Fonte: Greek Reporter (com adições minhas)

Louvados sejam os homens do Batalhão Sagrado de Tebas, o Exército de Amantes, que em nome do amor de Eros foi tornado imortal para inspirar as gerações futuras.

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